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Aqueles sacerdotes misteriosos: os dons do justo Abel

Por 16 séculos, na Igreja Latina, vigorou uma única prece eucarística: o Cânon Romano, chamado também de Oração Eucarística I. Nesta tão antiga súplica, que remonta aos tempos apostólicos, são citados diversos nomes, seja da Santíssima Virgem Maria, dos Apóstolos, de mártires e de três figuras sacerdotais enigmáticas e simbólicas.

Aqueles sacerdotes misteriosos: assim o Bispo norte-americano Fulton Sheen, falecido em odor de santidade, intitulou uma de suas obras. O sacerdócio é um mistério; e esse mistério se manifesta na vida sacerdotal, com os olhos voltados tanto à terra como ao céu. Misteriosos sacerdotes também foram Abraão, Melquisedeque e o justo Abel.

Como se ouve na oração Eucarística: “Recebei, ó Pai, com olhar benigno, esta oferta, como recebestes os dons do justo Abel, o sacrifício de nosso patriarca Abraão e a oblação pura e santa do sumo sacerdote Melquisedeque”. A assembleia, motivada por veneráveis exemplos, responde: “Aceitai, ó Senhor, a nossa oferta”.

A presença desses nomes no Antigo Testamento e na história da Salvação tem o caráter de ser símbolo do perfeito sacrifício de Cristo, que se faz presente em cada Celebração Eucarística (Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 47). Por isso que são também mencionados no Cânon da Missa.

O primeiro sacerdote misterioso é Abel, filho de Adão e Eva, que foi pastor de ovelhas (cf. Gn 4,2). Ele e seu irmão, Caim, ofereceram ao Senhor as primícias que produziram: Caim ofereceu os frutos da terra, pois era agricultor (cf. Gn 4,3), e Abel ofereceu os primogênitos de seu rebanho; e essa oferta agradou ao Senhor mais que a do seu irmão (cf. Gn 4,4). Irado, Caim matou seu irmão, porque “Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim; graças a ela, foi proclamado justo, pois Deus deu testemunho de seus dons” (Hb 11,4).

De fato, Abel, sendo o primeiro inocente e o primeiro inocente a morrer injustamente, foi sacrificado, como o Cordeiro de Deus também seria. A relação de Abel com o sacrifício da Santa Missa se encontra na tradição cristã, que interpreta o sacrifício de Abel como uma prefiguração do sacrifício perfeito de Cristo. Abel ofereceu a Deus um sacrifício de grande valor, que foi aceito por sua pureza de intenção e retidão de coração, oferecendo o melhor de suas ovelhas, símbolo de sua fidelidade e obediência.

Na Missa, o sacrifício de Cristo é feito presente de forma incruenta, e seu valor é oferecido ao Pai em expiação pelos pecados da humanidade. Assim, Abel é visto como uma antecipação da oblação perfeita que é cumprida em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus. Abel deu o melhor que possuía, e seu sacrifício foi aceito por Deus, da mesma forma que o sacrifício de Cristo na cruz é o mais puro e aceitável oferecimento, feito com amor e entrega total.

Nas palavras de São Josemaria Escrivá, “é preciso oferecer ao Senhor o sacrifício de Abel. Um sacrifício de carne jovem e formosa, o melhor do rebanho: de carne sadia e santa; de corações que só tenham um amor: Tu, meu Deus!; de inteligências trabalhadas pelo estudo profundo, que se renderão perante a Tua Sabedoria; de almas infantis, que só pensarão em agradar-Te. Recebe desde agora, Senhor, este sacrifício em odor de suavidade”.

 

GABRIEL NAFFIN

Seminarista de Teologia

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