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A oração do pobre eleva-se até Deus (cf. Eclo 21,5). No ano dedicado à oração, em vista do Jubileu de 2025, esta expressão é ainda mais oportuna, a fim de nos preparar para o VIII Dia Mundial dos Pobres, que acontecerá em 17 de novembro. A esperança cristã inclui a certeza de que a oração do pobre chega a Deus! Por isso, olhemos para os pobres e deixemos que nossa oração se torne comunhão com eles!
O Eclesiástico, escrito por um sábio de Jerusalém, procura transmitir a todos o caminho para uma vida sábia e digna de ser vivida diante de Deus e dos irmãos. Ele valoriza a oração com grande ardor e afirma que é sua prática desde sua juventude: “Quando eu era ainda jovem, busquei abertamente a sabedoria na oração” (Eclo 51,13).
Na oração, o sábio descobre que os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus, a tal ponto que, perante o seu sofrimento, Deus se “impacienta” enquanto não lhes faz justiça: “A oração do humilde penetrará as nuvens, e não se consolará, enquanto ela não chegar a Deus. Ele não se afastará, enquanto Deus não fizer justiça e restabelecer a equidade. O Senhor não terá paciência com os opressores” (Eclo 35,17-19).
Deus é um Pai atento e carinhoso e se preocupa com aqueles que mais precisam dEle: pobres, marginalizados, sofredores, moradores em situação de rua, migrantes, detentos, dependentes químicos... Ninguém está excluído do Seu coração, uma vez que, diante dEle, todos somos pobres e necessitados. Nem sequer teríamos vida se Deus não no-la tivesse dado. E, no entanto, quantas vezes vivemos como se fôssemos os donos da vida ou como se tivéssemos de a conquistar! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros.
A violência causada pelas guerras mostra quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes! Contudo, os amigos de Deus sabem que estes “pequeninos” têm gravado em si o rosto do Filho de Deus, e que a nossa solidariedade deve chegar até eles. Somos chamados a ser instrumento de Deus na libertação dos pobres. (Evangelii gaudium, 187)
Neste ano, precisamos fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles, pois a pior discriminação que eles sofrem é a falta de cuidado espiritual. A maioria dos pobres sente grande necessidade de Deus. Não podemos deixar de lhes oferecer a amizade, a bênção e o amadurecimento na fé. Tudo isto requer um coração pronto a reconhecer-se pobre e necessitado. O verdadeiro pobre é o humilde, como afirmava Santo Agostinho: o pobre não tem de que se orgulhar.
A pessoa humilde não reclama, sabe que não pode contar consigo própria, mas acredita que pode recorrer ao amor misericordioso de Deus, diante do qual se encontra como o filho pródigo que regressa à casa, arrependido para receber o abraço do pai (Lc 15,11-24). O pobre, sem nada em que se apoiar, recebe a força de Deus e coloca nEle toda a sua confiança. Aos pobres que habitam as nossas cidades, recomendo que não percam esta certeza: Deus está atento a cada um de vós. Ele não se esquece de vós!
O Dia Mundial dos Pobres tornou-se um compromisso na agenda de cada cristão. É uma ação pastoral valiosa, pois nos desafia a prestar atenção aos pobres e escutar sua súplica. É uma ocasião que nos faz ajudar concretamente os pobres, e também apoiar os numerosos voluntários que se dedicam com paixão aos mais necessitados: leigas e leigos, pessoas consagradas, sacerdotes... Com o seu testemunho, são a voz da resposta de Deus às orações daqueles que a Ele recorrem.
Portanto, o silêncio quebra-se sempre que se acolhe e abraça um irmão necessitado. Os pobres têm muito para nos ensinar. A oração encontra o seu certificado na caridade que se transforma em encontro! A oração que não se traduz em ações concretas, é vã (Tg 2, 26). Contudo, a caridade sem oração rapidamente se esgota. “Sem a oração quotidiana, o nosso fazer esvazia-se”, afirmava Bento XVI.
Aqui recordamos o testemunho de Teresa de Calcutá, uma mulher que deu a vida pelos pobres. Afirmava que a oração era o lugar onde tirava força para a sua missão em favor dos pobres. Enquanto ela rezava, Jesus colocava amor no seu coração e ela o dava aos pobres que encontrava no caminho. Rezai, pois os pobres que estão ao vosso lado, ou no andar da vossa casa ou nas vossas próprias casas... esperam pelo vosso amor.
No caminho para o Ano Santo, exorto-vos a vos fazerem peregrinos da esperança, dando sinais concretos de um futuro melhor. Não nos esqueçamos de guardar “os pequenos detalhes do amor” (Gaudete et Exsultate, 145): parar, dar um pouco de atenção, um sorriso, uma palavra de conforto aos pobres. Neste momento, em que o canto da esperança parece dar lugar ao ruído das armas, ao grito de tantos inocentes feridos e ao silêncio das inúmeras vítimas das guerras, dirijamos a Deus a nossa invocação de paz.
Em todas as circunstâncias, somos chamados a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus! Que a Mãe de Deus nos sustente neste caminho: a ela, a quem Deus olhou pela sua humilde pobreza e em quem realizou grandes coisas, confiemos a nossa oração, convictos de que subirá ao céu e será ouvida!
Fonte: Carta do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres.
IRMÃ CARMELA PANINI
Articuladora Diocesana das Pastorais Sociais