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Queridos diocesanos, com muita alegria inicio o meu ministério pastoral na Diocese de Rio do Sul, permeado pela Palavra que escolhi como lema episcopal: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Como Maria, precisamos nos revestir da palavra para fazermos sempre a vontade de Deus. Aonde a palavra chega, as estruturas de morte não subsistem. Precisamos aprender a escutar a palavra do Senhor, ela nos gera no seu amor filial. Somente Deus pode romper o silêncio dos céus e irromper no silêncio do coração; somente Ele pode dizer-nos, como mais ninguém, palavras de amor.
A palavra de Deus desceu até nós e viveu no meio de nós, como servo. A via divina é, de fato, a via descendente. Deus escolheu a simplicidade, a pobreza e a humildade para revelar o mistério de amor. A bíblia é a revelação divina. A escuta da palavra é geradora de vida. Nós nascemos da escuta. É a escuta que nos introduz na relação de filiação com o Pai e não é por acaso que o Novo Testamento indica que é Jesus, o Filho, a Palavra feita carne, e que deve ser escutado: "Escutai-o!" diz a voz que vem da nuvem, no monte da Transfiguração, apontando para Jesus (Mc 9,7).
O cristão tem plena consciência de que a sua capacidade de falar com o seu Deus, que não se pode ver, depende da sua escuta. A fé nasce da escuta: fides ex auditu (cf. Rm 10,17) e a oração é, antes de tudo, escuta: escuta de Deus através daquele sacramento da sua Palavra, que são as Escrituras, e a escuta de Deus na história, na vida cotidiana.
A escuta é possível quando frequentamos o Evangelho diariamente. Ele nos educa e nos ajuda a discernir a nossa vida. Na verdade, o cristão encontra na escuta a fonte da sua visão. Não surpreende, portanto, que o cristianismo seja, antes de tudo, uma ascese da escuta, uma arte da escuta.
O Novo Testamento pede-nos que prestemos atenção a quem ouvimos, ao que ouvimos e como ouvimos. O que implica um discernimento contínuo entre a Palavra e as palavras, um laborioso trabalho de reconhecimento da Palavra de Deus nas palavras humanas, da sua vontade nos acontecimentos históricos e da disposição global de toda a pessoa humana. Na vida espiritual crescemos à medida que descemos às profundezas da escuta. Precisamos aprender a escutar Deus, que fala por meio da sua palavra.
Se a escuta é, portanto, central na vida da fé, então necessita de vigilância: é preciso estar atento ao que se escuta (Mc 4,24), a quem se escuta (Jr 23,16; Mt 24,4-6.23; 2Tm 4,3-4), e como se escuta (Lc 8,18). É preciso dar a primazia à Palavra sobre as palavras, à Palavra de Deus sobre as múltiplas palavras humanas e é preciso escutar com um "coração bom e largo'' (Lc 8,15).
Como escutar a Palavra? A explicação da Parábola do semeador (Mc 4,13-20; Lc 8,11-15) dá-nos a resposta. Devemos saber interiorizar ou então a Palavra é ineficaz e não produz frutos de fé (Mc 4,15; Lc 8,12); é preciso dar tempo à escuta, perseverar, senão a Palavra não produz frutos consistentes, firmes e com a profundidade de uma fé pessoal (Mc 4,16-17; Lc 8,13); é preciso lutar contra as tentações, contra as outras "palavras" e "mensagens" sedutoras da mundanidade, senão a Palavra sufocará, não fecundará e não dará frutos de maturidade ao crente (Mc 4,18-19; Lc 8,14). Se não existir esta escuta não existe, também, oração!
A cada ato de leitura da Bíblia, para um cristão, é o início de um êxodo, de uma jornada de vir a sair de si para encontrar um Outro, que é Deus. Um êxodo que acontece essencialmente na escuta. Não podemos escutar a palavra com “dureza de coração”, com o “pescoço duro”, ou seja, a obstinação em não ouvir a Deus e ouvindo apenas a nós mesmos. O êxodo aqui significa a mudança que a Palavra provoca em nós, transformação e conversão.
Mas também é verdade que a experiência bíblica nos ajuda a descobrir que Deus é “Aquele que ouve a oração”. A escuta do homem leva a saber escutar Deus como dimensão na qual ele mesmo está imerso, que o precede e o estabelece.
Paulo diz: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). A escuta é a atitude contemplativa e antiidólatra por excelência; quanto mais escutamos Deus por meio da Palavra, menos idolatria cometemos. Graças a ela, o cristão procura viver na consciência da presença de Deus, do Outro que estabelece o mistério irredutível de toda alteridade. O cristão vive ouvindo, quem aprender escutar, aprende amar.
Deus fala; através dos acontecimentos e de palavras intimamente interligadas, Ele comunica a si mesmo aos homens. Colocados por escrito sob a inspiração do seu Espírito, esses textos constituem a Sagrada Escritura, a morada da Palavra de Deus nas palavras dos homens. A Palavra de Deus é o próprio Deus falando com o seu povo.
Maria disse: “fiat” (“faça-se”) em mim. Como Maria, cada um de nós é chamado a dizer “fiat”. O sim de Maria é, também, o nosso sim diário, a santa palavra de Deus quando paramos e silenciamos para escutá-la.
Maria é o verdadeiro Templo, é espaço de presença do Espírito, lugar sagrado onde habita a divindade. Em Maria a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós. Ela é lugar de plenitude do Espírito, terra da nova criação, templo do mistério. Maria oferece a Deus sua vida humana, para que, através dela, o mesmo Filho Eterno pudesse entrar na história.
Toda envolvida pelo amor divino, Maria soube colocar-se, em total disponibilidade, nas mãos de Deus, para cumprir sua santa vontade:
“Eis a serva do Senhor, faça-me em mim segundo a tua palavra”.
DOM ADALBERTO DONADELLI JÚNIOR
Bispo Diocesano