Loading...
O Papa Francisco resumiu seu pontificado na encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus: “Dilexit Nos, Sobre o Amor Humano e Divino do Coração de Jesus”. Podemos considerar este documento a chave para entender todo o magistério do Papa, sendo a síntese da experiência de um discípulo que muito amou. O Coração de Jesus, escreve o Papa, “Não é um símbolo imaginário, é um símbolo real, que representa o centro, a fonte da qual brotou a salvação para a humanidade inteira”.
Bruno Forte, teólogo e arcebispo de Chieti-Vasto, Itália, destaca: “Um dos aspectos mais importantes dessa encíclica é que o Papa Francisco mostra justamente o contrário do que pensam os críticos sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Longe de ser intimista, a devoção ao Sagrado Coração nos leva a experimentar o amor revelado de Cristo, que se torna história, carne ao lado dos pobres, dos últimos, dos esquecidos, daqueles que precisam ser amados”. O Coração aberto de Jesus nos antecipa e nos aguarda incondicionalmente, sem pré-requisitos para nos amar e oferecer sua amizade: Ele nos amou primeiro (cf. 1Jo 4,10). Graças a Jesus, “conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nEle” (1Jo 4,16).
Um Amor que Se torna Carne
O amor a Cristo nos motiva e nos ajuda a compreender e enfrentar os desafios com confiança em Deus e com a capacidade de perdoar, mesmo aqueles que nos ferem. Esse é um amor que se torna próximo, humano, por isso pode compreender melhor o coração das pessoas. No Coração de Cristo, encontramos profundamente o Evangelho do amor. É em Seu Coração que reconhecemos e aprendemos a amar. Um amor que transcende o amor humano, tantas vezes limitado e egoísta, ensinando-nos a amar de verdade. Através dEle, podemos conhecer o amor que Deus tem por nós, como está escrito na Primeira Carta de São João: “Nós conhecemos o amor que Deus tem por nós, pois cremos nEle” (1 Jo 4,16).
Voltar ao Coração
No Coração de Cristo aprendemos a amar. O Papa Francisco nos convida a voltar ao coração em um mundo no qual somos seduzidos a “nos tornar consumistas insaciáveis e escravos na loucura do mercado, da desumanização tecnológica, onde você vale pelo que produz”. O Santo Padre faz um apelo para recuperarmos o verdadeiro valor da pessoa humana, voltando ao coração. O coração é o lugar que, não importa o que mostramos exteriormente ou o que ocultamos, conta o que somos. Ao coração se conduzem as perguntas decisivas: que sentido quero dar à vida, às minhas escolhas e ações, quem sou diante de Deus?
O Papa ressalta que a atual desvalorização do coração nasce do “racionalismo e do materialismo”, de modo que, no grande pensamento filosófico, foram preferidos conceitos como “razão, vontade ou liberdade”. Sem encontrar lugar para o coração, também “não se desenvolveu suficientemente a ideia de um centro pessoal” que pode unificar tudo, ou seja, o amor. Pelo contrário, para o Pontífice, é preciso reconhecer que “eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas”.
Um Amor que sacia a nossa Sede
Santo Agostinho escreve: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”. O Papa Francisco fala de um “amor que dá de beber”. O coração de Jesus é uma fonte aberta para todos, para saciar a sede do amor de Deus, “para a purificação do pecado e da impureza”. Os Padres da Igreja muitas vezes refletiram sobre este tema, “a chaga no lado de Jesus como a origem da água do Espírito”, sobretudo Santo Agostinho, que “abriu o caminho para a devoção ao Sagrado Coração como lugar de encontro pessoal com o Senhor”. Esse lado trespassado está aberto, jorrando sangue e água para saciar a sede de todos aqueles que o buscam no amor e na dor.
A Missão do Coração de Jesus
O Papa Francisco insiste que o amor de Cristo “difundir-se-á no coração dos homens, para que se construa o Corpo de Cristo, que é a Igreja, e se edifique uma sociedade de justiça, de paz e de fraternidade”. Precisamos de “missionários apaixonados, que se deixem cativar por Cristo”. Ao longo de todo o documento, Francisco destaca que o Coração de Cristo não só nos atrai para Deus, mas também nos envia em missão para amar e servir nossos irmãos, levando o remédio que cura e liberta das doenças e prisões do mundo moderno em que vivemos. Francisco cita no documento vários santos, como São Charles de Foucauld e Santa Teresa de Lisieux, que tinham a devoção ao Sagrado Coração de Jesus enraizada no serviço e na transformação do mundo, promovendo a “civilização do amor”.
“A ternura de Deus não nos ama com palavras; aproxima-se de nós e, estando perto, dá-nos o seu amor com toda a ternura possível”. Assim, com essa bela encíclica, conclui-se o Pontificado de Francisco, ensinando-nos a amar a partir do Coração de Jesus.
DOM ADALBERTO DONADELLI JÚNIOR
Bispo Diocesano