Loading...
A participação dos fiéis na Santa Missa é mais do que uma simples presença física; é uma entrada viva e consciente no mistério de Cristo. A Igreja, desde os primeiros séculos, compreendeu a Eucaristia como o centro da vida cristã, fonte e ápice de toda a sua ação. O Concílio Vaticano II reafirma isso com força ao declarar: “A liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, 10).
Desde o Antigo Testamento, o povo de Deus é chamado a se reunir para louvar: “Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva!” (Sl 95,1). Esse louvor comunitário encontra sua plenitude na Santa Missa, onde a assembleia não apenas recorda, mas torna presente o sacrifício redentor de Cristo. É Ele mesmo quem nos ordena: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). Essa memória, no sentido bíblico, é uma atualização viva, um tornar presente aquilo que Cristo realizou uma vez por todas.
A participação na Missa, como ensina o Concílio Vaticano II, deve ser “plena, consciente e ativa”, pois “é exigida pela própria natureza da liturgia” (SC, 14). Santo Irineu de Lião, no século II, já afirmava que “a nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma o nosso modo de pensar”, demonstrando que a liturgia molda o cristão por dentro, de modo que sua fé e sua vida se tornem uma só realidade.
Essa participação se expressa não só em gestos exteriores, mas na oferta interior. Cada fiel é chamado a unir-se ao sacrifício de Cristo, oferecendo-se com Ele ao Pai. São Paulo nos exorta: “Oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1). E São Gregório Magno confirma essa verdade quando escreve: “Cada vez que celebramos a Paixão do Senhor, devemos nos oferecer com Ele em sacrifício”.
Durante a liturgia, o fiel participa da Palavra proclamada e da Eucaristia consagrada. Santo Ambrósio, comentando sobre a escuta da Palavra, dizia: “Quando lemos as Escrituras, Deus caminha conosco, como caminhava com Adão no paraíso”. Essa escuta orante, unida à comunhão eucarística, torna-se transformadora. Santo Agostinho recorda, com firmeza, que “se recebes bem, tu és aquilo que recebes: o Corpo de Cristo” (Sermão 272). Receber o Corpo do Senhor é, portanto, tornar-se mais profundamente membro de Seu Corpo, que é a Igreja.
A Comunhão não encerra a participação, mas a orienta para a missão. O envio final da Missa – “Ide em paz” – ressoa como um mandato missionário. A Eucaristia é fonte de caridade e fermento de transformação social. São João Crisóstomo adverte: “Queres honrar o corpo de Cristo? Não O desprezes quando O vês nu. Não O honres aqui na igreja com tecidos de seda, enquanto O deixas fora sofrer frio e nudez”. A verdadeira participação na Missa nos impele à caridade concreta, ao testemunho no mundo.
Assim, a participação dos fiéis na Missa é um ato de fé, de amor e de comunhão. Não se trata de um rito externo, mas de um mistério que envolve todo o ser humano. O salmista já intuía essa realidade quando proclamava: “Pagarei ao Senhor meus votos na presença de todo o povo [...] Nos átrios da casa do Senhor, em teu meio, ó Jerusalém!” (Sl 116,18-19). A assembleia litúrgica é esse novo “átrio”, o novo Templo, onde Deus se faz presente e nos transforma.
A Missa é dom e chamado: nela, Deus se entrega a nós e nos convida a nos entregarmos a Ele. Como dizia Santo Inácio de Antioquia, no século I: “Esforçai-vos por participar de uma só Eucaristia, pois há um só corpo de nosso Senhor Jesus Cristo, e um só cálice para nos unir no seu sangue”. Respondamos com fé e disponibilidade ao chamado do Senhor: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor!” (cf. Ap 19,9), e deixemo-nos transformar pela graça da Eucaristia.
GABRIEL NAFFIN
Seminarista de Teologia