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O Dízimo está, sim, presente nas Sagradas Escrituras. “Abraão entregou-lhe o dízimo de tudo” (Gênesis 14,20). “Todo o dízimo do país, tirado das sementes da terra e dos frutos das árvores, pertence ao Senhor como coisa consagrada” (Levítico 27,30). “Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um” (Atos 4,34-35).
No último artigo deste jornal, vimos a presença do Dízimo no Antigo Testamento. Hoje queremos refletir a partilha como um dom de Deus apresentado por Jesus no Novo Testamento.
O Dízimo em Jesus Cristo e nas Primeiras Comunidades
Na mesma linha dos profetas, os Evangelhos relatam Jesus Cristo opondo-se ao comportamento dos fariseus e escribas, que se preocupam em viver o gesto do dízimo em um contexto de formalismo cultual vazio: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar essas coisas, mas sem omitir aquelas” (Mt 23,23).
Os Evangelhos atestam que, entre os discípulos de Jesus, havia uma “bolsa comum” (Jo 13,29), que servia, dentre outras coisas, para ajudar os mais pobres. Jesus e os discípulos, mesmo sendo necessitados de ajuda, pois algumas pessoas os serviam com seus bens (cf. Lc 8,1-3), não hesitavam em partilhar o pouco que tinham. O Senhor Jesus disse: “Há mais felicidade em dar que em receber” (At 20,35).
Nas primeiras comunidades cristãs, os Atos dos Apóstolos destacam que os cristãos eram “perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). A partilha era uma realidade concreta, expressão natural do amor a Cristo e aos irmãos (cf. At 2,44s; 4,32-35; 6,1-3; 10,4).
Diversas coletas entre as comunidades cristãs foram realizadas para ajudar os cristãos na Judeia que passavam fome (cf. At 11,29; Rm 15,26-27; 1Cor 16,1-4; 2Cor 8-9; Gl 2,10). O senso de consciência é despertado pelo apóstolo Paulo quando ensina que cada fiel deve dar conforme disposto em seu coração (2Cor 9,7), e pelo apóstolo Tiago ao ensinar que “a fé, se não tiver obras, está completamente morta” (Tg 2,17s).
Observando o conjunto do Novo Testamento, a atitude da partilha entre os discípulos e as primeiras comunidades cristãs indica a continuidade das três finalidades que o Dízimo tinha na legislação mosaica: manifestação da reverência e gratidão a Deus; sustentação dos sacerdotes e levitas; socorro aos mais necessitados. Contudo, a partilha não é mais movida no seio das comunidades cristãs pela força da Lei, mas pela decisão livre e consciente que brota do encontro com Jesus Cristo, Sua Páscoa, Sua Graça e Seu Evangelho.
Dízimo e teologia da prosperidade
Faz-se necessária uma redobrada atenção diante da equivocada interpretação da prática do Dízimo à luz da atual “teologia da prosperidade”. Ela serve-se de certos textos do Antigo Testamento para fundamentar a ideia de que o Dízimo gera automaticamente a multiplicação de bens materiais do fiel. Todavia, não podemos considerar Deus um “devedor de favores” porque “pago” o meu “dízimo”. A relação é essencialmente outra: posso partilhar porque já sou agraciado. Deus é o meu tudo, não me deve nada. Ou seja, o Dízimo é um ato e fonte de ação de graças: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6,33).
Dízimo nasce de um coração humilde e agradecido
O percurso bíblico leva à percepção de que a consciência do Dízimo parte do reconhecimento a Deus e da gratidão a Ele. Assim, tanto a décima parte, indicada no Antigo Testamento, como a partilha dos bens, exercitada pelas primeiras comunidades cristãs, são expressões que brotam de uma pessoa que é “pobre no espírito” (Mt 5,3), reconhecendo que, sem a graça de Deus, “nada pode fazer” (Jo 15,5) e, por isso, partilha o seu Dízimo como expressão de “ação de graças” (Eukharistía).
Descubra o significado e a importância da Partilha e viva uma experiência transformadora, porque há mais alegria em partilhar!
ORAÇÃO DO DIZIMISTA
“Pai Santo, contemplando Jesus Cristo, vosso Filho bem amado, que se entregou por nós na cruz, e tocado pelo amor que o Espírito Santo derrama em nós, manifesto, com esta contribuição, minha pertença à Igreja, solidário com sua missão e com os mais necessitados. De todo coração, ó Pai, contribuo com o que posso: recebei, ó Senhor. Amém.” (Doc. 106 CNBB)
Referência: Diretório da Pastoral do Dízimo – Arquidiocese de Joinville
PE. ARNALDO ALLEIN
Coordenador Diocesano de Pastoral