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SALMO 123 (122) | Tem compaixão de nós!

1Cântico das subidas.

Para ti eu levanto os meus olhos,

para ti, que habitas no céu.

2Como os olhos dos escravos,

fixos nas mãos do seu senhor,

e como os olhos da escrava,

fixos nas mãos da sua senhora,

assim estão os nossos olhos

fixos no Senhor nosso Deus,

até que se compadeça de nós.

3Compaixão, Senhor! Tem compaixão de nós,

porque estamos fartos de desprezo!

4Nossa vida está farta por demais

do sarcasmo dos satisfeitos

e do desprezo dos soberbos.

 

TIPO DE SALMO

É uma súplica coletiva. É o povo todo (“os nossos olhos”, “de nós”) que clama (“compaixão de nós”, “estamos fartos”, “nossa vida”). Clama ao Senhor, pedindo compaixão diante de algo que atingiu toda a comunidade.

 

COMO ESTÁ ORGANIZADO E COMENTÁRIO

Os salmos de súplica coletiva geralmente têm introdução, corpo e conclusão. Não é, porém, o caso deste salmo. A introdução e a conclusão não existem. Isso talvez se deva ao fato de ele formar uma grande unidade, o bloco dos Salmos 120-134. Como vimos, são uma espécie de manual do romeiro. É bom sublinhar, contudo, que esses salmos não foram criados para isso. Nasceram, oralmente, da fé de pessoas ou grupos. Mais tarde, quando foram registrados por escrito, alguém os uniu em bloco, transformando-os em “cânticos das subidas”, isto é, salmos de romaria.

O corpo do Salmo 123 apresenta dois momentos: vv. 1b-2; 3-4. No primeiro momento (v. 1b-2) é uma pessoa que fala em nome da comunidade. Começa dizendo: “Para ti levanto os meus olhos”. Rigorosamente falando, o “para ti” não esclarece a quem essa pessoa dirige seu olhar. Supõe-se que seja para o Senhor. De fato, logo se acrescenta a expressão “os céus” como lugar em que habita aquele a quem o olhar se volta. É o Senhor.

Esse momento repete quatro vezes a palavra “olhos” e duas vezes a palavra “mãos”, além da dupla escravos + senhor, escrava + senhora. Se quisermos, temos aí três duplas: escravos + senhor, escrava + senhora, nossos olhos + o Senhor nosso Deus. As duas primeiras recordam uma sociedade em que há patrões e escravos, senhoras e escravas. Abraça a vida da roça e da cidade (escravos) e a vida dentro de casa (escrava). Os olhos de escravos e escravas estão atentos às mãos de seus patrões e senhoras, pois as mãos representam ordens. Ao menor gesto das mãos de patrões ou senhoras, os escravos e escravas correm, obedientes. Note-se um detalhe: não há palavras. As ordens são dadas mediante gestos. Na terceira dupla, os olhos do povo estão fixos no Senhor, não para cumprir ordens mudas, mas para receber gestos de compaixão. Não se fala das mãos do Senhor. E Ele é chamado de “nosso Deus”, expressão típica com a qual o povo se refere ao seu aliado, o Senhor.

No segundo momento (v. 3-4) é toda a comunidade que fala, suplicando ao Senhor (esse nome aparece apenas no fim do primeiro momento e no início do segundo, formando dupla). Esse momento tem quatro duplas: compaixão + compaixão, estamos fartos + vida farta, desprezo + desprezo, satisfeitos + soberbos. A imagem que predomina é a da fartura ou saciedade. O povo está farto, mas não de comida, e sim de sarcasmo e de desprezo dos satisfeitos e soberbos.

 

REZAR O SALMO 123 HOJE

É bom rezá-lo juntos, pensando na situação do povo e em solidariedade com ele, pois vive em contínua situação de carência. Do que o povo anda farto em nossos dias? Injustiças, opressões, corrupção e impunidade; está farto de passar necessidade devido à ganância dos satisfeitos e soberbos... Está farto de desprezo e de sarcasmo dos satisfeitos e soberbos. O chão da vida em que vivemos é farto material para rezar e clamar com nossas pessoas, também nas romarias...

Outros salmos de súplica coletiva: 12; 44; 58; 60; 74; 77; 79; 80; 82; 83; 85; 90; 94; (106); 108; 126 e 137.

 

PE. OSMAR DEBATIN

Doutor em Bíblia e Pároco da Paróquia Santo Ambrósio

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