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Papa Francisco, muito obrigado!

Nestes últimos dias, a vida da Igreja foi marcada pela saudade e pela esperança. Nosso amado Papa Francisco, que enfrentou a fragilidade da saúde com admirável entrega, retornou à casa do Pai. Nesse breve intervalo de orfandade, o Senhor nos presenteou com um novo pastor, Leão XIV, a quem acolhemos com afeto e confiança para a continuidade da missão de Pedro. Neste singelo artigo, desejo me despedir de Papa Francisco, recordando as marcas indeléveis de seu pontificado.

Muitos se pronunciaram sobre ele, por vezes com palavras superficiais, banais e até mesmo desrespeitosas. Infelizmente, ainda hoje, alguns, inclusive dentro da comunidade católica, parecem não reconhecer a grandiosidade do legado de um homem que, ao assumir a missão de Cristo na Igreja, carregou uma cruz pesada até o fim, ofertando sua vida, a exemplo dos apóstolos Pedro e Paulo.

O Papa da Misericórdia: Francisco inscreveu em seu pontificado o selo da misericórdia, culminando no Jubileu de 2016. Sua voz ecoou incessantemente, lembrando que o perdão divino é inesgotável, e que somos nós que nos cansamos de pedi-lo. Sua fé no sacramento da confissão, aliada à humildade de confessar-se publicamente, foram testemunhos eloquentes de que a misericórdia não é uma concessão, mas a própria essência do amor de Deus, o “ar que respiramos” em nossa fragilidade humana.

A Alegria do Evangelho: A exortação “Evangelii Gaudium” ressoa como um chamado perene à fonte da verdadeira felicidade. Papa Francisco nos ensinou que o Evangelho é força motriz de alegria, não de tristeza, e que o encontro com Jesus ressuscitado irradia um contentamento que se manifesta em rostos alegres e corações transbordantes. A alegria do Evangelho transforma a vida daqueles que se abrem ao encontro com Cristo.

A Igreja em Saída: Com insistência profética, Papa Francisco nos convocou a romper as fronteiras de nossos templos e a ir ao encontro das periferias existenciais. Sua imagem de uma “Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas” contrasta com a paralisia de uma Igreja fechada em suas seguranças. Sua visão é clara: a Igreja de Cristo é, por natureza, missionária, a serviço da Boa Nova e dos mais necessitados, seguindo o exemplo do lava-pés.

Uma Igreja Sinodal: Para Papa Francisco, sinodalidade é o caminho do “caminhar juntos” como filhos e filhas de Deus, empenhados na missão de anunciar a salvação em Cristo a todos os povos. A escuta atenta, sem medo de acolher todas as vozes, é antídoto contra a autorreferencialidade. Na Igreja sinodal, a humildade reconhece que todos são importantes, sem que ninguém seja superior a outro. As portas abertas e a acolhida incondicional são marcas de uma Igreja que vive em amor e comunhão, a essência da missão cristã.

O Papa que amou intensamente Nossa Senhora: Desde o alvorecer de seu pontificado, Francisco buscou o amparo de Nossa Senhora para guiar seus passos. Suas peregrinações à Basílica de Santa Maria Maior, levando flores a Maria em cada viagem e internação, revelam um amor filial profundo. Seu desejo de repousar eternamente na “casa da Mãe” é a derradeira expressão dessa confiança inabalável naquela que sempre o conduziu a Cristo.

Um Papa com o coração voltado aos Pobres: Os pobres e marginalizados habitavam o coração de Francisco. Suas lágrimas silenciosas diante do sofrimento, seus gestos concretos de serviço, como o lava-pés nos cárceres, e suas palavras incisivas ecoam como um chamado à nossa consciência. Ele nos lembrou que os pobres têm rosto, história e dignidade, e nos alertou contra a indiferença que os transforma em meras imagens passageiras. A pressa e a comodidade nos impedem de parar, socorrer e cuidar: não podemos nos esquecer dos pobres.

Francisco, o Artesão da Paz: Profeta incansável da paz, Francisco dedicou suas energias a construir pontes em um mundo fragmentado. Sua veemente condenação da guerra como um absurdo sem justificativa ressoou em todos os cantos: “Não à guerra, não à guerra!”. Suas últimas palavras, “A paz é possível”, são um legado de esperança. Ele nos ensinou que a paz não se edifica com armas, mas com a paciência da escuta, a coragem do diálogo e a força da cooperação, os únicos caminhos dignos da humanidade para superar as discórdias. Silenciar as armas e cultivar o amor.

Um Papa humano que amou o mundo: A humanidade, em todas as suas expressões, encontrou em Francisco um pastor atento e compassivo. Sentindo-se o “pároco do mundo”, estendeu a mão a inúmeras pessoas, especialmente àqueles que enfrentavam provações, como o padre na Faixa de Gaza, a quem ligava diariamente. Sua empatia era profunda, a ponto de chorar a dor dos que sofriam nas guerras. Na solidão da Praça de São Pedro vazia durante a pandemia, uniu-se em oração a toda a humanidade. Sua leveza, expressa em brincadeiras e piadas, revelava um coração humano e corajoso, que não hesitou em promover reformas necessárias na Igreja, com liberdade e ousadia.

Os papas partem, mas o legado de seu pontificado permanece como um farol de ensinamentos que iluminará a história da humanidade até a vinda gloriosa de Cristo.

 

DOM ADALBERTO DONADELLI JÚNIOR

Bispo Diocesano

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