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A Divina Liturgia de São João Crisóstomo: diversidade na unidade

Todo o orbe católico sabe que o centro de vivência da fé é a celebração do Santo Sacrifício da Missa, a Eucaristia. Nos diz a Sacrosanctum Concilium que: “O nosso Salvador instituiu, na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do Seu Corpo e do Seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, Sua esposa amada, o memorial da Sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura” (SC, n. 47).

O culto eucarístico, porém, não obedece a uma única forma. Em toda a Igreja, seis ritos constituem uma diversidade na unidade: mesmo diferentes em sua estrutura, preservam a mesma e única fé católica, onde é explícita a obediência ao Santo Padre e o reconhecimento do seu primado. A maioria esmagadora dos católicos brasileiros está acostumada à participação do rito latino, que é, inclusive, o rito que o Papa celebra ordinariamente.

Olhando para nossa Diocese, mais precisamente nos arredores da antiga colônia de Itaiópolis, vê-se a diversidade litúrgica na presença de um rito diferente do latino: o rito bizantino. As migrações de ucranianos e poloneses do final do século XVIII trouxeram junto a beleza do catolicismo desses povos, enriquecida pelas suas tradições e sua cultura singulares.

A Divina Liturgia de São João Crisóstomo – o nome próprio desta Celebração Eucarística bizantina – é dividida em três partes: 1) Preparação das oferendas ou da matéria do sacrifício – “Proskomydia”; 2) Liturgia dos catecúmenos ou Liturgia da Palavra; 3) Liturgia dos fiéis ou Liturgia Eucarística.

A primeira parte, realizada pelo sacerdote no santuário, consiste na preparação das oferendas, simbolizando a vida oculta de Cristo. Nessa etapa, o pão, chamado de prosfora, é marcado com o selo "NIKA" e, ao ser cortado, forma a hóstia chamada Cordeiro, representando Jesus como o Cordeiro de Deus. O vinho e a água no cálice remetem ao sangue e à água da cruz, enquanto partículas são retiradas em honra à Virgem Maria, aos santos e aos fiéis. A patena é coberta com véus, evocando as faixas do nascimento e da sepultura de Cristo, e um asterisco – um objeto metálico – simboliza a estrela de Belém. O incenso conclui a preparação, remetendo aos presentes dos Reis Magos e à unção do corpo de Jesus.

A Liturgia dos Catecúmenos, em seguida, inclui orações, hinos e leituras que recordam a vida pública de Cristo. Inicia-se com a Grande Litania, seguida de antífonas, a Pequena Entrada com o Evangelho, os troparios e o hino Trisagion. O incenso, usado no início e em momentos-chave, simboliza a oração dos fiéis e a purificação espiritual. A Epístola e o Evangelho são proclamados, seguidos da homilia e depois da Ectenia, uma súplica insistente por diversas intenções. A liturgia reflete antigas tradições, como a Lei do Arcano e a disciplina do catecumenato, que regulavam a participação dos fiéis no rito sagrado.

A Liturgia dos Fiéis, também chamada Liturgia Eucarística, é a parte central da Divina Liturgia, na qual ocorre a consagração dos dons e a comunhão dos fiéis. Começa após a despedida dos catecúmenos e inclui orações de súplica, a Grande Entrada – procissão com os dons sagrados – e a Anáfora Eucarística, na qual o pão e o vinho são consagrados. Durante a epiclese, invoca-se o Espírito Santo para transformar os dons no Corpo e Sangue de Cristo. A Liturgia segue com intercessões pelos vivos e falecidos, a oração do Pai Nosso e a preparação para a comunhão. Após a distribuição da Eucaristia, há as orações finais de ação de graças, a bênção sacerdotal e o envio dos fiéis em paz.

Assim se configura o rito de São João Crisóstomo, uma belíssima expressão da diversidade que o Espírito suscita na Igreja (cf. 1Cor 12,4-6). Consideremos ainda o final da homilia de Bento XVI, em 2006, em Istambul, durante Viagem Apostólica à Turquia: “Esta fé na morte redentora de Jesus na cruz e esta esperança que Cristo ressuscitado oferece a toda a família humana, são compartilhadas por nós, Ortodoxos e Católicos. Que a nossa oração e atividade de todos os dias sejam inspiradas pelo desejo ardente não só de estarmos presentes na Divina Liturgia, mas de sermos capazes de celebrá-la em conjunto, para participarmos na única mesa do Senhor, compartilhando o mesmo pão e o mesmo cálice”.

 

GABRIEL NAFFIN

Seminarista de Teologia

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