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O sacrifício de nosso patriarca Abraão – sacrifício alusivo ao futuro e verdadeiro sacrifício de Cristo, fonte de salvação, onde o homem com Deus se encontra. O segundo sacerdote misterioso do Cânon Romano é Abraão, descendente direto de Sem, filho de Noé. Ele viveu com seu pai, Taré, e toda a sua família em Ur dos Caldeus, uma cidade na Mesopotâmia, onde hoje é o Iraque (cf. Gn 11,26-31).
Nos capítulos seguintes do livro do Gênesis é narrada toda a trajetória da vida daquele que se chamava Abrão e de quem o Senhor mudou o nome para Abraão. Este fato se deu quando lhe foi feita, da parte de Deus, a promessa de que ele seria pai de numerosíssima multidão (cf. Gn 17,1-21).
E o início desta história miraculosa foi o nascimento de Isaac, que significa “ele ri”, porque tanto Abraão quanto Sara riram quando ouviram a promessa de Deus de que teriam um filho na velhice (cf. Gn 17,17;18,12). Quando Isaac finalmente nasceu, representando para Abraão, já em idade avançada, a recompensa por sua fé e esperança, o Senhor ordenou que ele o sacrificasse: “Toma Isaac, teu filho único, a quem amas, e vai à terra de Moriá; lá o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar” (Gn. 22,2). Sua confiança em Deus o levou a cumprir aquilo que ele o pedira: foi ao monte Moriá, com seu filho Isaac; por isso, Abraão recebeu o título de “pai da fé”, por sempre confiar no Senhor.
No entanto, quando Abraão estava prestes a sacrificar seu filho amado, o Anjo do Senhor o deteve. O Patriarca, então, ouviu estas palavras repletas de promessas abundantes: “Porque fizeste isso e não me negaste o teu filho único, eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como os grãos de areia na praia do mar. A tua descendência conquistará as portas dos seus inimigos, e todas as nações da terra serão abençoadas por meio dela, porque obedeceste à minha voz” (Gn 22,16-18).
Os Padres da Igreja reconheceram no sacrifício de Isaac uma prefiguração do sacrifício de Cristo. Isaac, o filho único e amado de Abraão, que carrega a lenha até o monte onde seria sacrificado, simboliza Cristo, o Filho Unigênito do Pai, o Amado, que carrega a cruz rumo ao Calvário, onde se entrega como sacrifício de valor infinito por toda a humanidade. Assim nos diz Orígenes, numa de suas homilias do século III: Isaac, ao carregar a lenha para o holocausto, é figura de Cristo que carregou a cruz às costas. Mas, ao mesmo tempo, levar a lenha para o holocausto é tarefa do sacerdote. Portanto, Isaac foi, ao mesmo tempo, vítima e sacerdote (...). Cristo é, ao mesmo tempo, Vítima e Sumo Sacerdote. Segundo o espírito, oferece a vítima ao seu Pai; segundo a carne, Ele mesmo é oferecido sobre o altar da Cruz.
Isaac, como filho amado de Abraão, carregando a madeira para seu próprio sacrifício, é uma imagem que antecipa Jesus carregando a cruz até o Calvário. A Missa torna presente, de maneira sacramental, o sacrifício de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). No relato de Abraão, Deus providencia um cordeiro para substituir Isaac, sinalizando que Ele mesmo providenciará o sacrifício necessário para a redenção. Na Missa, Cristo é o “Cordeiro de Deus” oferecido em nosso lugar, o sacrifício perfeito que redime os pecados da humanidade.
O sacrifício de Abraão, juntamente com a pessoa de Isaac, sacerdote misterioso, foi profético e simbólico, pois já apontava para a plenitude do mistério pascal de Cristo, que a Igreja celebra e torna presente em cada Missa.
GABRIEL NAFFIN
Seminarista de Teologia