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Em toda a Igreja, na Festa da Epifania do Senhor, ouviu-se a proclamação do Noveritis, o anúncio das festas móveis e da Páscoa. Diz o texto: “O centro de todo ano litúrgico é o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, que culminará no Domingo de Páscoa, este ano a 20 de abril”. E é este sagrado e tríplice tempo o coração da liturgia da Igreja.
Tríplice, porque estende-se por três dias, desde a Missa da Ceia do Senhor, na quinta-feira, passando pela Celebração da Paixão do Senhor, na sexta-feira, até a Vigília Pascal, no Sábado Santo. Ele marca o final do período quaresmal, como se lê na Carta Circular Paschalis Sollemnitatis, de 1988: “Na Semana Santa a Igreja celebra os mistérios da salvação, levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da Sua vida, a começar pelo Seu ingresso messiânico em Jerusalém. O tempo quaresmal continua até a Quinta-feira Santa. A partir da Missa vespertina in Coena Domini inicia-se o Tríduo Pascal, que abrange a Sexta-feira Santa ‘da Paixão do Senhor’ e o Sábado Santo, e tem o seu centro na Vigília Pascal, concluindo-se com as Vésperas do Domingo da Ressurreição” (PS, n. 27; Jo 13 – 17).
A Missa da Ceia do Senhor é quem inaugura o santo Tríduo; nela, de maneira mais especial, recorda-se aquela última ceia de Cristo, Senhor nosso, onde foi instituída a Eucaristia, a Ordem sacerdotal e o mandamento da caridade fraterna (cf. PS, n. 45). Por tradição, faz-se o momento do lava-pés, para lembrar o serviço e a caridade de Cristo, que veio “não para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28). O Santíssimo Sacramento é colocado em lugar reservado, depois da Oração Pós-Comunhão, entoando-se o Pange lingua ou outro cântico eucarístico. Deve ser conservado em um tabernáculo fechado, sem ser exposto. A Missa se encerra com o altar sendo desnudado (cf. PS, n. 54-57).
O segundo dia do Tríduo é marcado pelo silêncio, abstinência, jejum e penitência mais fortemente observados, pois “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado” (PS, n. 58). Com exceção da Penitência e da Unção dos Enfermos, nenhum Sacramento é celebrado neste dia, inclusive a Eucaristia. A Comunhão é feita com as partículas consagradas no dia anterior – razão esta porque antigamente a celebração recebia o nome de Missa dos Pré-Santificados. Pelas três horas da tarde ocorre a ação litúrgica da Paixão do Senhor, na sua estrutura: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Sagrada Comunhão. A sobriedade deve perpassar toda celebração, que termina em silêncio, sem benção. Valorizam-se neste dia os piedosos exercícios de meditação, como a Via-Sacra, as procissões da paixão e a memória das dores da Santíssima Virgem (cf. PS, n. 58-72).
Prevalece a observação do silêncio e do recolhimento durante o sábado, pois “a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a Sua paixão e morte, a Sua descida aos infernos, e esperando na oração e no jejum a Sua Ressurreição” (PS, n. 73). Após o anoitecer, celebra-se a Vigília Pascal, que, nas palavras de Santo Agostinho, é a mãe de todas as vigílias.
A estrutura da celebração é a seguinte: “depois do lucernário e da proclamação da Páscoa (primeira parte da Vigília), a santa Igreja contempla as maravilhas que Deus operou em favor do seu povo desde o início (segunda parte ou Liturgia da Palavra), até ao momento em que, com os seus membros regenerados pelo Batismo (terceira parte), é convidada à mesa, preparada pelo Senhor para o Seu povo, memorial da Sua morte e ressurreição, à espera da Sua nova vinda (quarta parte)” (PS, n. 81).
Assim se encerra e se coroa esse santo Tríduo; e no despertar do próximo dia, da Páscoa do Senhor, cantará a Igreja, solenemente, na sequência da Missa do Domingo da Páscoa: “Cantai, cristãos, afinal / Salve, ó vítima pascal! / Cordeiro inocente, o Cristo / Abriu-nos do Pai o aprisco. / Por toda ovelha imolado / Do mundo lava o pecado / Duelam forte e mais forte / É a vida que vence a morte!”.
GABRIEL NAFFIN
Seminarista de Teologia