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Existem conceitos tão bem conhecidos por nós que acabamos por banalizá-los e, por vezes, se faz necessário reavaliar alguns deles. Vale a pena refletir um pouco sobre o Dízimo. Como podemos conceituar o Dízimo nestes tempos em que nos defrontamos com as nossas próprias urgências e as necessidades de pessoas próximas?! Haverá um lugar para o Dízimo em nossa realidade atual?
Sabemos que o Dízimo é uma forma justa e adequada de retribuir, de devolver a Deus aquela parte do todo que Ele continuamente nos dá. O Dízimo é uma retribuição regular (e não esporádica), proporcional (e não aleatória) dos bens que recebemos e que, então, entregamos na Igreja (e não para uma entidade filantrópica, congregação religiosa ou outras boas obras apostólicas), destinado a prover as necessidades paroquiais em vista da Evangelização, ou seja, do anúncio do Reino de Deus para todos os homens e mulheres.
Os benefícios que recebemos de Deus estão sempre em função da vida. O tempo, os bens imateriais, que podemos chamar talentos e capacidades, e os bens materiais, que são obtidos normalmente a partir do exercício dos nossos talentos e capacidades.
Logo, oferecer Dízimo não é fazer um pagamento, mas é partilhar a vida, porque o dinheiro oferecido através do Dízimo ou das Ofertas na Igreja corresponde a uma parcela do nosso trabalho e do suor derramado na obtenção do pão nosso de cada dia. Corresponde a um diálogo de gratuidade. De graça recebemos, de graça devemos dar.
Uma comparação talvez nos ajude a entender melhor o que seja o Dízimo: o trabalho não é dinheiro, o dinheiro é uma consequência do trabalho. O dinheiro é o resultado do esforço que se faz através do trabalho. Como usualmente não podemos comprar as coisas oferecendo em troca o nosso trabalho, utilizamos a moeda que trocamos pelo trabalho que realizamos para satisfazer as necessidades de nossa sobrevivência. Da mesma maneira, o Dízimo não é dinheiro; o dinheiro que utilizamos para entregar como Dízimo de retribuição a Deus representa o resultado do nosso trabalho, que foi possível porque Deus nos deu vida, saúde, tempo, profissão, emprego. Portanto, para se expressar como Dízimo, o dinheiro tem que ter sido gerado pelo trabalho honesto, digno e justo. Como tudo o que há na Igreja, também a função do Dízimo é promover a Vida e isso ele faz quando fornece os instrumentos para a Evangelização e para o exercício concreto da fraternidade.
Para que a Evangelização aconteça na Igreja e facilite o relacionamento religioso entre a criatura e o Criador, existe a necessidade do ministro, do templo e toda a sua infraestrutura: instrumentos, som, paramentos, folhetos, iluminação, manutenção, limpeza, ornamentação… esta é a Dimensão Religiosa do Dízimo.
O relacionamento entre a criatura e o seu Criador só é pleno e verdadeiro quando se reflete no relacionamento das criaturas entre si. O relacionamento fraterno exige que os irmãos mais carentes sejam assistidos em suas necessidades – e assistir aos necessitados constitui a Dimensão Social do Dízimo.
Para que o Evangelho seja anunciado a todas as criaturas se faz necessário que todos se empenhem em testemunhar a fé em seu próprio meio, à sua volta e também promover o anúncio a todas as nações, ou seja, além dos seus limites territoriais. Aí encontramos a Dimensão Missionária do Dízimo, que é concretamente realizada quando a paróquia envia diretamente seus missionários para evangelizar além das fronteiras ou, indiretamente, quando auxilia a Cúria Diocesana e o Seminário para a formação de novos ministros – agentes para a mesma missão evangelizadora da Igreja.
O Dízimo, pois, é um ato de generosidade, de partilha, de fé e de amor a Deus e aos irmãos – ato de confiança e compromisso com o anúncio do Reino de Deus.
LUIZ TARCISO