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Com Jesus, comprometidos com os pobres

O compromisso da Igreja com o pobre é algo inerente à suas raízes. Ela o traz de sua origem, herda do próprio coração de Deus manifestado em Jesus Cristo, homem pobre desde sua origem. Vindo de Nazaré, desprezado e insignificante povoado da Galiléia dos trabalhadores e trabalhadoras, servidores do poder romano. “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”, pergunta Natanael, quando Filipe lhe anuncia seu encontro com Jesus (Jo 1,46).

Em meados da década de 70 e início de 80 se cantava muito esta canção: “Louvado sejas, meu Pai, porque do Teu coração os pequeninos não saem”. É uma paráfrase à palavra de Jesus em que Ele agradece ao Pai por revelar Seus segredos aos pobres e escondê-los dos sábios e entendidos. Não é que Deus não Se queira revelar aos sábios, ricos, poderosos... Ele deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, mas é preciso ter ouvidos atentos e coração aberto para escutá-la e acolhê-la como tesouro (cf. Mt 11,25; Lc 10,21), algo mais difícil para quem já tem muitos tesouros guardados nos seus cofres e nos bancos.

O tema do olhar atencioso para o pobre é recorrente em toda a Bíblia. “Não sejas mesquinho com teu irmão pobre”, diz o Deuteronômio, e repetem outros textos sagrados (cf. Dt 15,7). Em que consiste esta mesquinhez? Pode estar no simples pensamento, bastante comum: “pobre é preguiçoso”. Ou em caso de tragédias, sobretudo, por ocasião de alguma campanha, se aproveita para limpar o armário, dar o que não se quer mais, que passou da moda, que não gostamos. Ou até coisas piores, como dar alimento vencido, de má qualidade...

Poucas vezes Deus faz ameaças, mas dentro do Código da Aliança encontramos uma ameaça bastante severa contra quem explora viúvas ou órfãos (os mais pobres entre os pobres): "Não explorarás viúvas ou órfãos, porque se os explorares e eles gritarem a mim, Eu os escutarei. Minha ira se acenderá e vos farei perecer pela espada (Ex 22,21s).

Os profetas se levantam contra os que exploram os pobres e fazem uma veemente acusação-ameaça contra os abusadores que “espremem os pobres” (Am 8,4-7) e Isaías vai mais longe: coloca o socorrer os pobres como substituto do jejum, um dos três pilares da espiritualidade judaica (cf. Is 58, 7); colocam o pobre como destinatário primeiro da Boa Nova da libertação, tema retomado por Jesus ao apresentar-Se na sinagoga de Nazaré (Is 61,1 e Lc 4, 18-21) e na Sua pregação (Lc 6,20b-21).


Jesus e os pobres

Os pobres são os primeiros beneficiários do Reino, sempre gratuito (cf. Lc 6,20b). Embora Mateus diga “pobres de espírito” (Mt 5,3) ou de coração, como preferem alguns tradutores, o desapego em relação aos bens e riquezas é fundamental. Este desprendimento interior só é concretizado na partilha, no serviço aos empobrecidos e no compromisso de lutar contra a injustiça estrutural, principal causa da pobreza.

Jesus faz uma dura advertência aos ricos: “...não participarão do Reino de Deus aqueles que marginalizam, que permitem que outros sejam injustiçados ou que simplesmente se omitem diante da injustiça” (A. G. Rubio, 53). O rico pode participar do Reino, mas usando sua riqueza para viver a solidariedade, colocando a serviço dos pobres sua riqueza, seu poder político, sua influência social...

A salvação chega a Zaqueu e à sua casa quando ele acolhe Jesus e manifesta seu propósito de partilhar os seus bens com os pobres e restituir o que tinha roubado... (cf. Lc 19, 1-10). Para o jovem rico, fiel cumpridor de todos os mandamentos, que quer a vida eterna, Jesus coloca a única condição para ser perfeito: “Vende tudo o que tens, distribui aos pobres, depois vem e segue-me” (Lc 18,18-23).


As primeiras comunidades 

Na Carta aos Gálatas, nos encontramos frente a um conflito significativo que enfrentaram as comunidades primitivas. É eloquente o episódio em Paulo, acusado por um grupo que se opunha à sua maneira de anunciar Jesus Cristo e da não exigência da circuncisão para os pagãos. Ele se defendeu com este argumento: “Então Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as mãos, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles aos judeus. Recomendaram-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com solicitude (Gl 2,9-10). Lembremos também do que se dizia das primeiras comunidades: “Não havia entre eles necessitado algum” (At 4,34a).

A atenção aos pobres é central e decisiva no Evangelho. No juízo final não nos será apresentada a lista de nossas práticas religiosas, e sim nosso acolhimento misericordioso ao pobre ou nossa indiferença para com ele: “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,31-46). As práticas de piedade são importantes e necessárias para manter-nos viva a consciência e dar-nos a graça da fidelidade a esta dimensão central do seguimento de Jesus Cristo.

Deus nos conceda um coração misericordioso como o Seu, abra nossas mãos, mova nossos pés ao encontro dos pobres. Que nos ajude o exemplo de tantas pessoas que doaram sua vida no serviço aos pobres.


IRMÃ MARIA FACHINI

Congregação das Irmãs Catequistas Franciscana


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