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¹Cântico das subidas.

Feliz quem teme o Senhor

e anda em seus caminhos!

²Você comerá do trabalho de suas próprias mãos,

tranquilo e feliz.

³Sua esposa será como vinha fecunda,

na intimidade do seu lar.

Seus filhos, rebentos de oliveira,

ao redor de sua mesa.

⁴Essa é a bênção para o homem

que teme a Deus.

⁵Que o Senhor abençoe você desde Sião,

e você veja a prosperidade de Jerusalém

todos os dias de sua vida.

⁶Que você veja os filhos de seus filhos.

Paz sobre Israel!

TIPO DE SALMO

É um salmo sapiencial, com algumas ligações com o anterior. Traz uma proposta concreta de felicidade e de bênção (“feliz quem teme...”, “tranquilo e feliz”). Como os outros salmos desse tipo, mostra onde está o sentido da vida e em que consiste a felicidade.

COMO ESTÁ ORGANIZADO E COMENTÁRIO

Sem introdução nem conclusão, o corpo deste salmo é composto de dois momentos: v. 1b-3 e 4-6. O primeiro (v. 1b-3) começa com a proclamação de felicidade; o segundo (v. 4-6) inicia-se com a bênção. Essas duas coisas, felicidade e bênção, destinam-se à mesma pessoa, o homem que teme a Deus (compare 1b com 4). As duas coisas são provavelmente proclamadas por um sacerdote. Supõe-se, pois, o ambiente do Templo de Jerusalém.

O primeiro momento proclama feliz o homem que teme a Deus e anda em seus caminhos, ou seja, observa os mandamentos (v. 1b). A prática dos mandamentos produz três resultados bem visíveis, e estes constituem a felicidade. O primeiro diz respeito ao trabalho, acompanhado de tranquilidade e felicidade (v. 2). Produzir e poder desfrutar do trabalho das próprias mãos é sinônimo de felicidade. O oposto é maldição, infelicidade. Quem teme a Deus participa, de alguma forma, do seu plano criador (compare com Gênesis 2,15). O segundo resultado diz respeito à comunhão entre esposo e esposa (v. 3a). A fecundidade é dom de Deus (veja o Salmo 127). Aqui, a esposa é comparada à vinha fecunda, e esta é, talvez, a característica mais importante para a mulher na visão patriarcal daquele tempo. De fato, a mulher é condicionada à “intimidade” do lar na visão patriarcal deste salmo; parece que a fecundidade dela depende da fidelidade do esposo aos mandamentos. A palavra “intimidade” é muito importante neste salmo. Na língua original, o sentido primeiro dessa palavra é “coxa”, “genitais”. Em sentido figurado, significa “intimidade”, o lugar mais reservado da casa... Nota-se uma corajosa referência à sexualidade, dom de Deus. É um eco de Gênesis 1,28. Sendo fecundos, os seres humanos imitam o Criador. O terceiro resultado é consequência do anterior (v. 3b): muitos filhos, sobretudo homens. A cena recorda as refeições, em que pai e filhos homens sentavam à mesa (entre os nômades tratava-se de um tapete no chão). Ao redor da mesa, os filhos parecem brotos viçosos de oliveira. A imagem é interessante porque a oliveira com seus brotos representa, entre outras coisas, a vida que se renova a partir de um tronco envelhecido, porém cheio de vitalidade. É a concretização da ordem dada por Deus em Gênesis 1,28. Trabalho, mesa farta, intimidade com a esposa e fecundidade, convivência com os filhos, eis a felicidade.

O segundo momento (v. 4-6) abre-se com o tema da bênção para a mesma pessoa que teme a Deus. Mas do trabalho e da casa passa-se à cidade, à capital. Por meio do sacerdote, o Senhor abençoa de Sião (compare com Números 6,22-26), e a bênção se desdobra em três consequências. A primeira refere-se à prosperidade de Jerusalém por todos os dias do justo (v. 5). “Ver a prosperidade” não é somente contemplar, mas participar. A segunda diz respeito à vida longa, ou seja, chegar a ver os netos (v. 6a). A terceira (v. 6b) abraça todo o povo com a paz: “Paz sobre Israel!” (compare com o final do Salmo 125).

REZAR O SALMO 128 HOJE

Quando estamos à procura do sentido da vida ou de algo que nos torne felizes; em solidariedade com os que são explorados no salário, no trabalho que realizam; quando queremos rezar a partir da esposa, do esposo e dos filhos, da família, da sexualidade; quando sonhamos com o bem-estar e a paz para todos; rezá-lo pensando nos que não chegam a ver seus filhos ou netos e nas causas que geram mortes prematuras; nas romarias...

Outros salmos sapienciais: 1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127; 133 e 139.

PE. OSMAR DEBATIN

Doutor em Bíblia e Pároco da Paróquia Santo Ambrósio