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Um coração que ouve: a Palavra na Liturgia

“Os ramos, unidos à videira, amadurecem e dão frutos. Que havemos de fazer tu e eu? Estar muito unidos, por meio do Pão e da Palavra, a Jesus Cristo, que é a nossa videira” (Forja, 437). Feliz o coração que está unido a Nosso Senhor, como nas palavras de São Josemaria Escrivá. O salmista vem confirmar, ao escrever: “Vossa palavra é minha herança para sempre, porque ela é que me alegra o coração!” (Sl 118,111).

A vida litúrgica da Igreja é, antes de tudo, encontro com Cristo vivo, que nos fala e nos alimenta. A Instrução Geral do Missal Romano recorda que “quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, o próprio Deus fala ao seu povo, e Cristo, presente na sua Palavra, anuncia o Evangelho” (IGMR, 29). As Sagradas Escrituras ocupam lugar privilegiado na ação ritual, muito mais que um preâmbulo, mas como verdadeira palavra divina, dirigida a todos os homens (Cf. IGMR, 29).

Na Santa Missa, Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística formam um único ato de culto, inseparável. Cabe ao fiel que, ao participar da celebração, ouça a Palavra proclamada e explicada antes de receber o Corpo de Cristo, pois, como afirma São Paulo: “A fé vem da pregação, e a pregação se faz pela palavra de Cristo” (Rm 10,17 Vulg.).

Também na Liturgia das Horas, a Igreja presta um “culto a Deus, por forma a estabelecer uma espécie de intercâmbio, um diálogo entre Deus e o homem: ‘Deus fala ao seu povo, (...) e o povo responde a Deus no canto e na oração’” (IGLH, 14). Ora, tal comunicação se dá pelos textos sagrados da Escrituras, lidos ou cantados, nos salmos, cânticos e leituras.

Ainda há mais: nos ritos de exéquias, a Palavra está presente, para dar consolação e esperança: “a proclamação da Palavra de Deus na celebração exequial é um momento fundamental para anunciar a esperança cristã e suscitar a fé na ressurreição” (RE, 17). Textos como João 11,25-26, “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá”, oferecem aos crentes um alívio e reforçam que a vida não é tirada, mas transformada, como diz o Prefácio para os Defuntos (MR, p. 518).

Também nos outros Sacramentos, a Palavra é elemento constitutivo. No Batismo, ela ilumina a fé que se professa (Rm 6,3-5); no Matrimônio, inspira a entrega total e fiel dos esposos (Cor 13,4-7); na Unção dos Enfermos, consola e fortalece no sofrimento (Tg 5,14-18).

Assim, em toda a liturgia, a Palavra de Deus está presente como meio para chegarmos à estatura de Cristo, próximos da perfeição (cf. Ef 4,13-16). Ela não só prepara para o Sacramento, mas é parte inseparável dele. Como o profeta Jeremias, ouvimos e proclamamos em uma das leituras breves da segunda semana do Saltério: “Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me; elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos” (Jr 15,16).

Unidos à Videira por meio do Pão e da Palavra, aprendemos que a liturgia é o espaço privilegiado onde Deus nos fala e onde respondemos com fé viva. Escutá-la é deixar-se conduzir, como os discípulos de Emaús, que só reconheceram o Senhor ao recordar “como nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras” (Lc 24,32).

 

GABRIEL NAFFIN

Seminarista de Teologia

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