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1Cântico das subidas.
Quanto me oprimiram desde a juventude,
— Israel que o diga —
2quanto me oprimiram desde a juventude!
Mas nunca puderam comigo!
3Os lavradores lavraram minhas costas
e alongaram os seus sulcos.
4Mas o Senhor é justo: ele cortou
os chicotes dos injustos.
5Voltem para trás, envergonhados,
os que odeiam Sião.
6Sejam como a erva do telhado,
que seca, e ninguém a corta,
7que não enche a mão do ceifador,
nem a braçada daquele que enfeixa.
8E que os passantes não digam:
“Deus abençoe vocês!”
Nós abençoamos vocês em nome do Senhor.
TIPO DE SALMO
Este Salmo mistura vários tipos. Apresenta elementos de ação de graças individual ou coletiva. Lembra também a cidade de Jerusalém (v. 5). Apesar disso, nós o consideramos salmo de confiança coletiva. Isso é possível se levarmos em conta que o salmista está falando da história do povo e falando em nome de toda a comunidade. O final esclarece isso, mostrando que se trata de um grupo (“nós abençoamos”) falando para outro grupo (“vocês”). Mais ainda, no início do salmo, percebe-se que os dois grupos dialogam entre si, o segundo (chamado de “Israel”) aprovando e repetindo os pontos de vista do primeiro (talvez um grupo de sacerdotes). São, portanto, dois grupos celebrando sua confiança no Senhor.
COMO ESTÁ ORGANIZADO E COMENTÁRIO
Sem introdução e conclusão, o salmo divide-se em dois momentos: v. 1b-4 e v. 5-8. No primeiro (v. 1b-4), os dois grupos dialogam entre si (compare com Salmo 124,1b-2). O primeiro, em nome de todo o povo, recorda seu passado de sofrimento, desde a “juventude”, isto é, desde que o povo de Deus começou a se formar. O segundo grupo confirma esse tema, repetindo as mesmas palavras do primeiro: “quanto me oprimiram desde a juventude!” (v. 2a). Todavia, à opressão constante acrescenta-se a resistência do povo de Deus, criado livre e chamado a defender a liberdade como dom de Deus: “Mas nunca puderam comigo!” (v. 2b). As expressões “quanto me oprimiram” e “nunca puderam” marcam a tensão que percorre toda a história de Israel.
Vem, a seguir, uma imagem forte, tirada da experiência da agricultura. Os opressores são comparados a lavradores que transformam as costas de Israel em campo de aradura, semeadura e colheita (v. 3). Em vez de lavrar terras, os opressores lavraram corpos, abrindo largos sulcos. O arado abre o seio da terra para fecundá-la com a semente; os opressores abriram as costas do povo para sugar-lhe a vida. A imagem compara, ainda, o povo de Deus ao boi ou à vaca que puxa o arado sob os chicotes dos lavradores.
O segundo momento (5-8) começa falando de Sião, a capital, e de grupos que odeiam a cidade, centro da fé e da identidade nacional do povo de Deus. Eles odeiam Jerusalém, cercando-a para destruí-la (v. 5). São, evidentemente, povos inimigos. É mais um sinal de que, mesmo falando na primeira pessoa do singular, o salmista (ou grupo de pessoas) representa uma coletividade. O que se deseja é que os inimigos recuem, envergonhados. Mais ainda: roga-se uma maldição, tirada da experiência de quem trabalha na agricultura (v. 6-8a). Fala-se da erva do telhado, que seca e ninguém a corta (v. 6). Muitas casas daquele tempo tinham telhados de terra batida, e aí se secavam os grãos (trigo e outros) ao sol. Com a chegada da chuva, os restos de semente abandonados no telhado brotavam, mas sua vida era curta e sem resultados, não chegando a produzir espiga. Serviam para nada: não enchiam a mão do ceifador nem a braçada de quem amarrava os feixes (v. 7). Assim seja quem odeia Sião!
Naquele tempo, quem passasse por uma plantação bonita costumava invocar as bênçãos de Deus (veja Rute 2,2-4). A maldição do salmo contra os opressores do povo é o oposto da bênção: “Que passantes não digam: ‘Deus abençoe vocês'” (v. 8a). Todavia, para que o salmo não terminasse com a maldição, acrescenta-se a bênção dos sacerdotes para todo o povo: “Nós abençoamos vocês em nome do Senhor” (v. 8b).
REZAR O SALMO 129 HOJE
É bom rezá-lo juntos, partilhando as ocasiões em que “Deus cortou os chicotes dos lavradores”. Rezá-lo em solidariedade com os trabalhadores explorados, grupos que mantêm bem vivo o sonho de liberdade e de vida; nas procissões e caminhadas...
Outros salmos de confiança coletiva: 115 e 125.
PE. OSMAR DEBATIN
Doutor em Bíblia e Pároco da Paróquia Santo Ambrósio