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No dia 1º de novembro, celebramos a Solenidade de Todos os Santos e, nessa ocasião, a Igreja nos convida a renovar a esperança na santidade como um chamado universal. Os santos foram pessoas que ultrapassaram seus próprios limites para se assemelhar a Jesus em seus gestos e palavras. Viveram doando-se em favor dos irmãos e não se conformaram com uma existência superficial ou sem sentido. Ao contrário, deixaram-se conduzir pelo amor do Senhor. Suas vidas nos revelam que a santidade é dom da bondade de Deus, é “o encontro da nossa fragilidade com a força da graça” (Gaudete et Exsultate, 2018).
Mas o que significa ser santo hoje? O Papa Francisco, em sua exortação apostólica Gaudete et Exsultate (2018), recorda que a santidade deve ser “encarnada no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades”. Isso significa que não somos chamados a viver uma santidade distante da realidade, mas a responder ao amor de Deus nas circunstâncias concretas do nosso dia a dia.
A Palavra de Deus também nos orienta e fortalece. Na Carta aos Hebreus lemos: “Corramos com perseverança na corrida que nos é proposta, tendo os olhos fixos em Jesus” (Hb 12,1-2). A vida cristã é como um percurso espiritual que pede constância e fidelidade. E não caminhamos sozinhos: antes de nós, muitos homens e mulheres percorreram essa mesma estrada da fé, tornando-se testemunhas do Senhor.
O chamado à santidade é, acima de tudo, um convite à amizade com Cristo. Os santos foram íntimos de Jesus: amaram-no, ouviram sua Palavra, silenciaram-se diante de sua presença e buscaram viver conforme sua vontade, até se tornarem semelhantes a Ele. Talvez ser santo seja justamente isso: cultivar essa amizade, escutá-lo e servi-lo com coração sincero.
Esse amor, porém, não se fecha em si mesmo. Ele transborda em gestos concretos: um sorriso partilhado, uma palavra de consolo, o perdão oferecido, a mão que se estende, a acolhida generosa, a atenção com o próximo. Quem ama sempre encontra maneiras criativas de expressar esse amor.
A santidade é, portanto, um chamado para todos: sacerdotes, pais e mães de família, religiosos e religiosas, leigos e leigas, jovens, crianças, adultos e idosos. E é um caminho possível, trilhado na simplicidade de cada dia.
Quando buscamos viver os valores do Reino — a vida, a justiça, a paz e a verdade — já participamos, de alguma forma, do Reino de Deus que, embora ainda não esteja em plenitude, já se manifesta entre nós. Assim, a santidade não é apenas promessa futura, mas realidade que se constrói no hoje da nossa história.
Ser santo no cotidiano é transformar a vida comum em lugar de encontro com Deus: rezar no silêncio, ter paciência nas dificuldades, agir com ternura com os filhos, preparar uma refeição com amor, dedicar-se à missão com fidelidade, escutar quem sofre, ajudar o pobre, não falar mal de ninguém, suportar provações sem perder a esperança, doar o próprio tempo a algum serviço pastoral. É escolher amar quando seria mais fácil fechar-se em si; é perdoar quando tudo convida ao ressentimento; é servir quando o descanso parece mais cômodo.
A santidade não nos afasta do mundo, mas nos mergulha nele com coração aberto. Não é peso, mas alegria: quanto mais nos aproximamos de Deus, mais descobrimos que a verdadeira felicidade nasce do amor. Ela nos torna mais humanos, próximos e compassivos. É na vida real, com suas alegrias e feridas, que respondemos ao amor divino.
Que eu e você tenhamos coragem de buscar a santidade. O mundo e a Igreja precisam de santos do cotidiano, que, no silêncio das famílias, nas paróquias, nas comunidades e onde quer que estejam, façam brilhar a luz de Cristo. Não por feitos extraordinários, mas pela fidelidade nos pequenos gestos, capazes de transfigurar a vida comum em encontro com o Senhor.
Que Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, nos conduza pelo caminho da santidade e nos acompanhe com sua intercessão.
Todos os santos e santas de Deus, rogai por nós!
IRMÃ ADRIANA, PMMI
Coordenação Diocesana de Pastoral
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA GAUDETE ET EXSULTATE, do Papa Francisco
#“ALEGRAI-VOS E EXULTAI” (Mt 5,12), diz Jesus a quantos são perseguidos ou humilhados por causa dEle. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa. (1)
#Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque “aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente”. (6)
#Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, ou – por outras palavras – da “classe média da santidade”.[4] (7)
#A santidade é o rosto mais belo da Igreja. (9)
#Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. (14)
#Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gl 5,22-23). (15)
#Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho. (19)
#Precisamos dum espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Desta forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação. (31)
#Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. (32)
#Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. (34)
#A palavra “feliz” ou “bem-aventurado” torna-se sinônimo de “santo”, porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade. (64)
#Ser pobre no coração: isto é santidade. (70)
#Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade. (82)
#Abraçar diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade. (94)
#A firmeza interior, que é obra da graça, impede de nos deixarmos arrastar pela violência que invade a vida social, porque a graça aplaca a vaidade e torna possível a mansidão do coração. O santo não gasta as suas energias a lamentar-se dos erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos dos seus irmãos e evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si próprio (cf. Fl 2,3). (116)
#A humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade. Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade. A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da humilhação do seu Filho: este é o caminho. (118)
#O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é “alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17), porque, “do amor de caridade, segue-se necessariamente a alegria. Pois quem ama sempre se alegra na união com o amado. (...) Daí que a consequência da caridade seja a alegria”. (122)
#Ao mesmo tempo, a santidade é parresia: é ousadia, é impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. (129)
#Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora. (138)
#O santo é uma pessoa com espírito orante, que tem necessidade de comunicar com Deus. É alguém que não suporta asfixiar-se na imanência fechada deste mundo e, no meio dos seus esforços e serviços, suspira por Deus, sai de si erguendo louvores e alarga os seus confins na contemplação do Senhor. (147)
#A vida cristã é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do demônio e anunciar o Evangelho. Esta luta é magnífica, porque nos permite cantar vitória todas as vezes que o Senhor triunfa na nossa vida. (158)
#O caminho da santidade é uma fonte de paz e alegria que o Espírito nos dá, mas, ao mesmo tempo, exige que estejamos com “as lâmpadas acesas” (cf. Lc 12,35) e permaneçamos vigilantes: “afastai-vos de toda a espécie de mal” (1Ts 5,22); “vigiai” (Mt 24, 42; cf. Mc 13, 35); não adormeçamos (cf. 1Ts 5,6). (164)