Loading...
A Diocese de Rio do Sul esteve presente, dos dias 11 a 13 de março de 2025, no Centro de Formação Católica de Lages/SC, participando da 3ª etapa da 2ª Escola Regional de Fé e Cidadania Dom José Gomes. A finalidade principal foi a de abordar temas relacionados à Doutrina Social da Igreja Católica (DSI), sob o olhar da prática nas bases: paróquias, pequenas comunidades e grupos. Nesta etapa, em especial, foi trabalhado o tema “Metodologia para uma análise de conjuntura”, apresentado pelo professor e filósofo catarinense Cleber Cézar Buzatto e com assessoria orante e musical de Arnaldo Temochko.
A ideia da Escola surgiu na Assembleia do Regional Sul 4 da CNBB em 2020, e é totalmente subsidiada pelo Regional e pela Cáritas de Santa Catarina. De igual maneira, participam na organização das mesmas a coordenação das pastorais sociais, a coordenação da Cáritas e membros do CNLB – Comissão Nacional de Leigos do Brasil. Ademais, também faz parte da Ação Sociotransformadora da Igreja no Brasil. Estamos na segunda turma desta Escola. Com este viés, surge a problemática da Análise de Conjuntura, trabalhada neste encontro após já termos visto nas etapas anteriores os Princípios da DSI e também a cultura da comunicação no mundo virtual.
A Análise de Conjuntura nada mais é do que um estudo aprofundado de todo um cenário geográfico, político, religioso, socioeconômico, cultural e com todos os demais aspectos que julgarmos serem interessantes e relevantes para fazer determinada ação, seja esta pontual, continuada ou continuadora. Serve para mensurar a necessidade de fazermos uma ação, lacunas a serem preenchidas, o impacto que desejamos alcançar e as benesses e dificuldades que encontrarmos ao implantá-las. Vale ressaltar que a análise não é definitiva, pois os cenários e sujeitos que a compõe estão em constante mudança, e nem mesmo os parâmetros selecionados serão úteis para todo o sempre. Além do mais, também as premissas mudam de acordo com aquilo que deseja ser alcançado. Um bom exemplo é que, se um empresário e um trabalhador recorrerem à análise de conjuntura para ver problemas relacionados à remuneração, provavelmente as premissas de lucro serão vistas de maneira diferenciada.
Essa prática tem raízes até mesmo na filosofia socrática, mais de 400 anos antes de Cristo, mesmo que não era utilizado este termo para nomeá-la. No mundo globalizado, cada vez mais se faz necessária a análise de conjuntura. Grandes governos o fazem para mensurar sua popularidade, para ver qual linguagem utilizar para determinada população, quais seus inimigos, o que lhes favorece, e qual o impacto de suas ações – sejam elas positivas ou negativas – irão permanecer. Grandes empresas, de igual maneira, o fazem para aumentar ainda mais seus ganhos, reduzir custos, aumentar ou diminuir o preço dos seus produtos.
Nós, enquanto pastorais sociais, movimentos eclesiais e Igreja como um todo, também devemos utilizar o método da análise de conjuntura para as ações que fazemos em nossas comunidades, desde as mais simples, com viés sociotransformador ou não. Vejamos um exemplo fictício muito simples na prática:
Verificar se os horários de Missa na Catedral de Rio do Sul estão sendo favoráveis à participação do povo.
Objetivo: Aumentar o número de fiéis nas Missas.
Localidade: Centro da cidade de Rio do Sul.
Cenário: Cidade com população de 70 mil pessoas, com 6 paróquias e 36 comunidades. Domingos de pouco trânsito e fluxo de pessoas, sendo o horário mais movimentado entre 11h e 19h.
Agentes favoráveis: Cidade tranquila, não turística, predominantemente de classe média, poucos atrativos abertos no domingo.
Agentes contra: Diversas outras religiões surgindo; aumento significativo de estabelecimentos abrindo aos domingos; clima caminhando para a desertificação, frio pela manhã na maior parte do ano e calor intenso à tarde; mais pessoas, devido à crise financeira, obrigando-se a trabalhar nos domingos.
Resultado: Buscar horários entre 11h e 19h, devido ao clima e fluxo de movimento, ressaltando que, pela manhã, também já há um grande número de celebrações em outras comunidades. Divulgar amplamente os horários. Buscar, através da conscientização da guarda do domingo e de uma ação sociotransformadora, evitar o quanto possível que pessoas trabalhem aos domingos.
Podemos ver que a análise de conjuntura pode ser feita por qualquer pessoa, sendo esta douta ou não, visto que não são necessárias grandes pesquisas teóricas, mas sim reflexão e conhecimento de causa, uma vez que o sujeito ou grupo que realiza a análise é que estipula aonde ela quer chegar. Ela não é um fim em si mesma, mas sim uma ferramenta para nos auxiliar a chegar na meta que desejamos. Podemos ficar com a descrição do professor Cleber: “A análise serve para descortinar uma janela e reconhecer, através dela, quais os personagens que estão encenando uma determinada história”.
ERICH K. GIOVANELLA
Participante da 2ª Escola de Fé e Cidadania