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A Espiritualidade do Natal

Mais uma vez aproxima-se o tempo do Natal. Ao refletirmos sobre este tempo, sobre esta grande celebração, não devemos nos deixar influenciar pelas ideologias comerciais e pelas tradições que a sociedade adotou ao longo do tempo, ou seja, o Natal não pode ser reduzido a um mero feriado ou um momento de confraternização, onde o que deve prevalecer é a fartura de alimentos, bebidas e a troca de presentes. A festa, a confraternização, estar com a família para comemorar esta data é importante, porém, é secundário. Não podemos abandonar o verdadeiro sentido. O Natal representa muito mais que um tempo de festa. É a solenidade da esperança, do amor e da misericórdia de Deus manifestada a toda humanidade. Com isso, é fundamental recuperar o verdadeiro sentido desta festa, redescobrindo sua profundidade espiritual, para que possamos acolher plenamente a sua grandeza e as graças que dela emanam.

Desde os primeiros séculos do cristianismo, o Natal é considerado uma das celebrações mais significativas do ano litúrgico, pois expressa profundamente o mistério da Encarnação de Deus, ou seja, Deus que se faz homem para habitar no meio de nós. Nos primórdios, a natividade de Jesus Cristo não era celebrada em uma data específica, prevalecendo à solenidade da Páscoa, mistério que possui extrema importância na fé cristã.

A festa do Natal surgiu com intuito de celebrar o aniversário do nascimento de Jesus. Mesmo que a verdadeira data ainda seja desconhecida, “a de 25 de dezembro é indicada como uma antiga tradição segundo a qual Jesus teria sido concebido no mesmo dia e mês no qual seria, posteriormente, morto, isto é, 25 de março.” (AUGÉ, 2019, p. 205). Portanto, a data da sua concepção é a mesma de sua morte. Também, outra hipótese sobre a origem do Natal, ou seja, de sua data ser fixada em 25 de dezembro, teria sido em substituição às festas pagãs do Sol Invicto, criado pelo imperador Aureliano em meados do século IV, marcando o solstício de inverno. Através disso, a Igreja afirma que Cristo é o verdadeiro sol que desponta para iluminar a humanidade. Em uma de suas homilias, Santo Agostinho, já dizia que “o próprio Criador do sol nasceu neste dia, para ser o sol da nossa alma”.

Dentro da vida litúrgica da Igreja, a espiritualidade do Natal é precedida por um tempo de profunda preparação, isto é, o Advento. Os quatro domingos que antecedem o Natal formam um caminho espiritual que nos convida à espera vigilante e à conversão do coração. É um tempo de espera confiante, de desejo e de esperança. Cada domingo nos oferece um caminho espiritual: no primeiro, somos chamados à vigilância e à esperança para acolher a vinda do Senhor; no segundo, à conversão, atendendo ao chamado de João Batista; já no terceiro, chamado Domingo da Alegria (Gaudete), somos convidados a alegrar o nosso coração, pois o Salvador está próximo; e no quarto, apresenta Maria, que nos ensina a acolher com amor o Verbo Encarnado. Compreendemos, portanto, que o Natal é muito mais interior do que exterior. Sendo assim, viver bem o Advento significa preparar a casa interior para que Cristo possa não somente nos visitar, mas habitar em nós.

Por fim, viver o Natal espiritualmente é viver a alegria da salvação. “O anjo, porém, disse-lhes: Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo-Senhor, na cidade de Davi” (Lc 2, 10-11). Essa alegria, não é passageira, ela brota da certeza de que Deus está conosco. O Natal nos chama a deixar que essa alegria se torne testemunho no mundo, manifestando em nossas atitudes o amor que recebemos de Cristo. Quando o cristão vive o Natal com o coração renovado, ele transforma seu lar, sua comunidade e o ambiente em que vive num verdadeiro presépio, onde o amor de Deus pode ser visto, tocado e experimentado.

Que neste Santo Natal, estando às vésperas de encerrarmos o Jubileu da Esperança, possamos abrir os nossos corações para que Cristo possa habitar e nos faça perseverar como peregrinos da fé, iluminados pela luz do Menino de Belém. Que a Sua Graça renove em nós a confiança e a esperança, para que sejamos testemunhas autênticas do Seu amor paternal. “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que Ele ama!” (Lc 2, 14).

Um Feliz e Santo Natal a todos!


REFERÊNCIAS

AUGÉ, Matias. Ano Litúrgico: é o próprio Cristo presente na sua Igreja. Tradução Geraldo Lopes. São Paulo: Paulinas, 2019.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.


GABRIEL SOUZA DA SILVA

Seminarista


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