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Deus pensou, sonhou, projetou e amou o ser humano desde toda a eternidade. A esperança tem raízes na eternidade, mas se torna visível nas pequenas coisas. Nos gestos despojados ela floresce e aponta para um sentido novo.
É preciso ter um coração contemplativo para captar o “mistério” que nos envolve. É preciso um coração sensível para ver em uma Criança a presença do Inefável. Na verdade, “entrar” na Gruta do Nascimento de Jesus é sempre um chamado à esperança.
Esperança que não é uma projeção para um futuro incerto, que serve apenas para fugir do presente ou para poder suportá-lo. Por este motivo, não podemos entender a esperança como mera expectativa que nos afasta do presente cotidiano, em troca da promessa de algo que nos faça sentir melhor, em outro tempo e em outro lugar.
Deus sonhou o ser humano à Sua imagem e semelhança. Mas o ser humano se afastou de Deus por causa do pecado, fechou as portas do coração e não deixou mais Deus entrar. Então Deus sonhou Seu sonho novamente. Realizou Seu sonho, dando um novo início em Seu próprio Filho. Deus Se tornou homem, conforme a passagem: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo, assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor” (Fl 2,6-11).
Deus vê. O olhar de Deus é profundamente amoroso e sensível. Deus ouve. O ouvido de Deus escuta o clamor e a necessidade dos Seus filhos. Deus sente. O nosso Deus tem sentimentos: Ele sente nossas dores, tristezas e alegrias. É por isso que Ele vem.
Deus desce. Ele desce até o mais profundo do nosso ser, penetrando a nossa humanidade, as nossas mazelas, feridas e dores, para nos curar, restaurar e salvar.
Jesus nasce num curral. O curral é o lugar em nós onde moram os animais, ou seja, os instintos e impulsos, a vitalidade e a afetividade. Temos vergonha deste local, por isso o escondemos, justamente porque não controlamos o que há ali. Às vezes este local não está limpo, não tem perfume agradável, não foi desinfetado, e por isso preferimos não olhar... Temos vergonha...
Mas é exatamente lá que Deus quer nascer em nós. Precisamos de humildade para abrir nosso próprio curral a Deus. Deus quer iluminar nossas trevas. Lá onde não queremos olhar, no campo dos nossos instintos, no abismo de nossa alma, lá onde é frio e duro: lá está, dentro de nós, a manjedoura onde Deus quer deitar o Seu Filho, para que Ele nasça em nós e seja o nosso libertador, rompendo nossas prisões.
A ternura como medida da humanidade
O grau de humanidade do nosso mundo se mede pelo grau de sensibilidade diante da dor e da miséria humana. E é a ternura a melhor expressão dessa sensibilidade e humanidade. Ela é, antes de tudo, uma experiência relacional que nos compromete a ver o mundo e as pessoas de maneira diferente e a nos relacionar também de maneira diferente. E, como a ternura brota do coração, é ali, no coração, onde os olhos se purificam para ver e sentir a realidade que nos envolve.
A ternura é o contrário da apatia, da indiferença e da violência. É o amor que abraça, envolve, protege e salva. O Natal é a manifestação da ternura de Deus pela humanidade e pela Criação inteira. No nascimento de Jesus, “apareceu a bondade e a ternura de Deus” (Tt 3,4). Apareceu um Menino; apareceu a ternura e a doçura de Deus que salva.
Por Sua ternura, Deus reveste o ser humano com a Sua divindade, capaz de amar, de manifestar compaixão e de expressar uma nova sensibilidade. Então, neste Natal, deixe Deus nascer no seu coração, naqueles lugares mais frios e fechados que você ainda não permitiu que Ele entrasse.
Feliz e abençoado Natal de vida e esperança a todos!
DOM ADALBERTO DONADELLI JÚNIOR
Bispo Diocesano