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Na tarde de 24 de agosto de 2024, a Catedral São João Batista ficou lotada de fiéis, que compareceram à Celebração de Posse Canônica do novo Bispo Diocesano, Dom Adalberto Donadelli Júnior.
A partir desta Celebração, Dom Adalberto iniciou seu ministério pastoral na Diocese de Rio do Sul, guiado por seu lema episcopal: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38).
A celebração foi belíssima, repleta de momentos cheios de significado.
Ao final de sua homilia, Dom Adalberto destacou: “Como Maria, o nosso sim é diário, é o exercício de amar e servir todos os dias. Que São João batista me ajude, que Jesus cresça e eu diminua. Pois, o meu único e verdadeiro desejo é servir.”
Confira alguns trechos da homilia:
Na primeira leitura que ouvimos, a Igreja, no Apocalipse, é a cidade santa, que recolhe as doze tribos de Israel, isto é, o novo Israel de Deus. Os seus muros apoiam-se sobre doze colunas, que são os doze apóstolos. A Igreja é, também, chamada de "noiva", "a noiva, a esposa do Cordeiro", para evidenciar o vínculo de amor com que Deus se ligou à humanidade.
A relação de Deus com o Seu povo é uma relação de amor esponsal. Cristo vive esta relação com a Igreja. Cada um dos apóstolos, dos sucessores dos apóstolos, participa e testemunha este amor no seu ministério e, finalmente, no martírio. Até porque ser mártir é ser uma testemunha viva do evangelho. Por isso, os Doze são também chamados de "Apóstolos do Cordeiro".
De fato, não só exercem o ministério que Jesus lhes confiou, mas também, e principalmente, participam no Seu mistério pascal, bebendo com Ele o cálice (cf. Mt 20,22). Os Apóstolos bebem do mesmo cálice de Cristo, o cálice que Jesus bebeu na cruz.
O anel que o Bispo recebe na sua ordenação simboliza a insígnia da fidelidade e a união nupcial com a Igreja, que é sua esposa. O Bispo se casa com a Igreja; ele deve amá-la com o mesmo amor com que Cristo a amou. É o amor que alimenta a vida e o mistério do Bispo. O amor nos torna originais, o amor é um privilégio daqueles que amadureceram, o amor é remédio para a alma.
Jesus curava os corações feridos amando. Sem amor não é possível seguir Jesus; sem amor ninguém gasta a sua vida, ninguém seria capaz de perder a própria vida como São Bartolomeu, que amou sem esperar nada em troca, amou por uma única razão: Cristo. O amor só será, de fato, perfeito, se entregarmos a nossa vida a Cristo. O grão de trigo, quando morre na terra, gera vida e torna-se fecundo.
Só é possível dar a vida morrendo para si mesmo. O discípulo de Jesus é chamado a viver o mesmo mistério de morte para gerar a vida e ser fecundo em favor dos seus irmãos e irmãs. Onde existe egoísmo, não existe amor. Os ministérios diaconal, sacerdotal e episcopal não combinam com egoísmo.
É precisamente assim na missão daquele que é chamado a ser pescador de homens. Do grego, “pescador” significa: salvar vivos, ou seja, salvar vidas para Deus. O documento da Igreja, a Gaudium et Spes, nos diz: a missão da igreja é salvar a humanidade.
A Igreja é a ponte de ligação entre Deus e a humanidade. A humanidade está a caminho da salvação, porém, é a Igreja que deve mostrar o caminho, e esta é a sua missão essencial. A evangelização é um serviço perene que a Igreja oferece a todos os seres humanos. A Igreja é uma servidora do Evangelho.
A missão é de ida incansável rumo a toda a humanidade para convidar ao encontro e à comunhão com Deus. Repito, incansável! A missão universal dos discípulos de Cristo é a Igreja toda sinodal-missionária.
Se a Igreja deixar de ser missionária, se a Igreja deixar de sair e ir, ela deixa de ser a Igreja de Cristo; ela poderá ser tudo, menos a Igreja de Jesus Cristo. São Paulo VI afirmou que, na missão, as pessoas ouvem mais as testemunhas que os mestres.
A transmissão da fé é dada pelo testemunho de vida evangélica dos cristãos. Então, é fundamental a tarefa de anunciar a pessoa de Jesus e a Sua mensagem, mas é preciso testemunhar, viver o que anunciamos. Sem testemunho, o Evangelho não alcança o coração humano. Logo, não estaremos cumprindo a nossa missão. O objetivo da missão é alcançar a todos, sem distinção de pessoas; ninguém pode ficar para trás.
No Evangelho que ouvimos, Jesus encontra um homem chamado Natanael, que depois do encontro com Jesus se torna Bartolomeu, um dos Doze escolhidos por Jesus. E cada encontro com Jesus é um chamado de amor.
“Encontramos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas”. Detenhamo-nos por um momento nesta experiência do encontro com Cristo, que o chama a estar com Ele. Esse é o nosso primeiro chamado, ficar com Cristo, estar com Ele.
Cada chamado de Deus é uma iniciativa do Seu amor. É sempre Ele que toma a iniciativa. Jesus disse: Mateus, segue-me... Pedro, te farei pescador de homens... Ele te chama. Deus chama à vida, chama à fé e chama a um estado particular de vida: “Eu te quero aqui”. Como Ele me quis aqui, me tirou de lá e me trouxe aqui. Ele te quer aí, onde você está, onde Ele te colocou. Aí é o seu lugar. Cada um tem o seu lugar, não precisamos nunca desejar, invejar ou almejar o lugar do outro.
Natanael parece meio desconfiado: “De Nazaré pode sair coisa boa?”. Filipe, então, o conduz a Jesus. Vendo-o aproximar-se, Jesus comenta: “Eis um israelita verdadeiro, sem falsidade”. É fácil supor que a desconfiança do novo discípulo aumenta ainda mais: “De onde me conheces?”. E Jesus lhe diz: “Antes que Filipe te chamasse, eu o vi debaixo da figueira” (Jo 1,43-51). Jesus sempre nos vê por primeiro.
O que representa, para Natanael, a figueira? Não seria o lugar secreto para onde ele se refugia nos momentos críticos da vida? Na tradição judaica, a figueira é a árvore do conhecimento, da felicidade, pode simbolizar o lugar de estudo da Lei, da palavra de Deus.
A figueira é o lugar onde a palavra gera seus doces e bons frutos. Jesus vê Natanael enquanto ele rezava com a palavra de Deus, ou seja, a figueira é o lugar teológico da oração, o lugar dos medos, das dúvidas e das interrogações. A oração é uma fonte de autoconhecimento, a oração nos faz pessoas maduras, mais sábias, sadias e realizadas. A oração é terapêutica, ela nos dá equilíbrio e boa saúde mental. Uma vida coerente de oração nos permite encontrar e conhecer a Deus profundamente.
A figueira era onde Natanael se escondia de tudo e de todos para rezar suas situações-limite, lugar do pranto e das lágrimas, espelho no qual ele podia contemplar suas próprias fraquezas e debilidade humanas. Em termos figurados, nós também temos a nossa “figueira”? Temos um lugar e espaço em que reconhecemos os nossos tropeços, com a nossa fragilidade e nudez?
Efetivamente é ali, “debaixo da figueira”, que tomamos as decisões cruciais da vida. Basta fazer uma retrospectiva da própria vocação. Ela está pontilhada de encruzilhadas tortuosas, as quais pressupõem escolhas decisivas. Seguir Jesus é tomar decisões.
A resposta ao chamado vocacional exige uma opção profunda e que envolve toda a existência humana. Conforta-nos saber que o Senhor nos acompanha nesses momentos de “figueira”. De fato, na trajetória da vocação, não há um “sim” definitivo e acabado, mas a vocação exige diariamente uma resposta generosa e gratuita.
Se exercitamos uma vida coerente de oração, não poderá haver falsidade, duplicidade ou mentiras em nossa vida. O Senhor não espera êxitos na nossa vida missionária vocacional, mas fidelidade.
São Paulo não teve nenhum êxito na missão; ao contrário, sofreu tanto e, no final, morreu decapitado. São Charles de Foucauld fracassou em quase tudo, senão em tudo, durante a sua vida, mas tanto São Paulo como Chales de Foucauld não fracassaram na fé, na confiança; a fé os manteve fiéis a Deus até o fim.
Por isso, meus queridos sacerdotes e diáconos da Diocese de Rio do Sul, vocês são os primeiros colaboradores do Bispo. Sem vocês, o Bispo não é nada, e eu preciso de cada um de maneira particular.
“Reaviva o dom de Deus que está em ti” (2 Tm 1,6). Reavivar o dom, redescobrir a unção, reacender o fogo, para que não se apague o zelo do ministério apostólico.
Nós devemos ser “Especialistas em humanidade”. O padre “traz harmonia onde há divisão, serenidade onde há animosidade”. Devemos ser homens misericordiosos e compassivos.
O nosso apostolado deve ser de alegria, como “apóstolos da alegria”. O padre demonstra fidelidade à sua vocação transmitindo ao Povo de Deus, com o seu modo de viver, a alegria que carrega dentro de si e que deriva do seu permanecer enraizado em Cristo. A alegria do padre “é um bem precioso, não só para ele, mas também para todo o Povo fiel de Deus”.
Sem alegria, a fé torna-se um exercício rigoroso e opressor, e corremos o risco de adoecer de tristeza. Não há santidade sem alegria, pois o Evangelho só pode ser anunciado com alegria.
Mesmo em meio às dificuldades, o padre conserva o senso de humor, uma das características da santidade. Graças a ele, podemos rir dos outros, de nós mesmos e até de nossa própria sombra.
Alguém me dizia outro dia: seja um bispo alegre. Um irmão Bispo me escreveu: não se esqueça nunca de dar boas gargalhadas.
A alegria de Cristo nos faz homens da Páscoa, e com o olhar voltado para o Reino de Deus. Nós somos homens da Páscoa. Do nosso ministério deve emanar vida, vitalidade e muita alegria. Seremos reconhecidos por essa alegria.
Precisamos ser construtores de sinodalidade. Por ser profundamente consciente de que "o caminho que Deus espera da Igreja hoje é o da sinodalidade", a missão da Igreja é ser sinodal, construir e favorecer "a comunhão, o diálogo e a interação no Povo de Deus, especialmente entre nós, Bispos, Sacerdotes, Diáconos e Leigos".
O Espírito Santo nos ajuda evitar que nos tornemos uma Igreja-museu: linda, mas muda, com muito passado e pouco futuro. (Papa Francisco)
Muitas igrejas na Europa viraram literalmente museus diante do ateísmo. O autêntico objetivo da sinodalização da Igreja, de fato, é: "fazer germinar sonhos; despertar profecias; ter uma visão ampla, aberta; fazer florescer a esperança; estimular confiança; aliviar as feridas daqueles que sofrem, os pobres e pequeninos. Tecer relações e aprender a pensar positivo, para que ilumine as mentes, aqueça os corações, devolva força às nossas mãos, para servirmos ao Evangelho”.
Como São João Batista, a nossa missão é preparar os caminhos para o Senhor. Precisamos ser uma voz que clama neste deserto que estamos atravessando.
No dia 17 de maio, dia em que recebi a ligação do Sr. Núncio Apostólico no Brasil, me perguntando se eu aceitava ser Bispo de Rio do Sul, numa conversa de quase 30 minutos, eu disse possivelmente uns 5 “nãos”. Mas, no final, quando ele, fazendo a última tentativa, me perguntou: “Padre Adalberto, o seu pai está vivo?”. Eu respondi: “Não, senhor, ele já mora no céu”. O Núncio, com voz forte, me disse: “Ele, lá do céu, já sabe a sua resposta. Veja bem o que o senhor vai responder a Deus diante do chamado que Ele está lhe fazendo, através da Igreja, para ser Bispo de um povo que precisa do seu sim”.
Então, nessa hora, uma força divina toma conta do nosso coração e a resposta não pode ser outra, senão SIM. “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Como Maria, o nosso sim é diário, é o exercício de amar e servir todos os dias. Que São João batista me ajude, que Jesus cresça e eu diminua. Pois, o meu único e verdadeiro desejo é servir.
Concluo confiando a Deus o meu ministério episcopal pelas mãos de Maria, Nossa Senhora Auxiliadora. Maria, pousai o vosso olhar sobre nós; auxiliai-nos em todos os momentos da nossa vida, até o céu. Eis-nos aqui, na vossa presença!
Rezemos, pedindo a Deus que ilumine Dom Adalberto e o fortaleça na missão de pastorear todo o povo de nossa amada Diocese!
E que Maria, a serva do Senhor, o acompanhe e proteja em seu caminho!
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