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A bela mensagem do Papa Francisco para o VII Dia Mundial dos Pobres, este ano em 19 de novembro, vem firmar o caminho das nossas comunidades. Diariamente acolhemos pobres, mas não basta; a pobreza está presente em todas as cidades e o grito dos irmãos e irmãs que pedem ajuda torna-se cada vez mais forte.
O livro de Tobias enfatiza: “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4, 7). Nesta recomendação está a essência do nosso testemunho. O velho Tobit pede ao filho Tobias não somente que reze pelos pobres, mas que sua vida tenha o perfil de gestos de boas obras e de justiça. “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus” (Tb 4, 7). Dá pão aos famintos, roupas aos nus e sepultura aos mortos... (Tb 1,3.17).
Ao chegar a festa de Pentecostes, Tobit mandou preparar um banquete e reclinou-se para comer. Mas, ao ver a mesa tão farta, disse a Tobias: “Filho, vai buscar um pobre e traze-o para comer conosco. Eu espero por ti, meu filho” (Tb 2,1-2). Tobias fez como o pai lhe dissera, mas voltou com a notícia de que um pobre fora morto e deixado na praça. Sem hesitar, o velho Tobit levantou-se da mesa e foi primeiro sepultar o indigente.
Como seria significativo se, no Dia dos Pobres, esta preocupação de Tobit fosse também a nossa! Ou seja, convidar pobres para partilhar o almoço dominical, depois de ter partilhado a Mesa Eucarística. A Eucaristia celebrada tornar-se-ia realmente critério de comunhão. Aliás, se ao redor do altar temos consciência de sermos todos irmãos e irmãs, quanto mais visível se tornaria esta fraternidade, compartilhando a refeição festiva com algum faminto! Enfim, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o outro lado, porque impediríamos a nós mesmos de encontrar o rosto de Jesus.
Porém, vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos pobres. O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto e faz silenciar as vozes dos que vivem na pobreza. Coloca-se na sombra aquilo que é desagradável.
Os pobres tornam-se imagens que até podem comover por alguns momentos, mas, quando os encontramos em carne e osso pela estrada, somos movidos pela pressa que nos impede de parar, socorrer e cuidar deles. A parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) não é história do passado; desafia o presente de cada um de nós. Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; e envolver-se pessoalmente para que os pobres tenham vida digna é a vocação de todo o cristão.
É grande bênção o testemunho de muitas pessoas que se dedicam aos pobres e excluídos, vivem a hospitalidade, partilham com eles os seus bens, os integram, os orientam, para que possam viver dignamente como cidadãos. Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender suas causas, aconselham e orientam. Dão amparo em caso de doença, invalidez, viuvez, velhice, desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento. Estão atentos às necessidades materiais e espirituais, ou seja, à promoção integral da pessoa.
O Reino de Deus torna-se presente e visível neste serviço generoso e gratuito; é realmente como a semente que caiu na boa terra e dá bom fruto (Lc 8, 4-15). A gratidão a tantos voluntários torna-se oração para que o seu testemunho seja fecundo!
Não obstante os limites e por vezes as lacunas da política para ver e servir o bem comum, possa firmar-se a solidariedade de muitas pessoas que acreditam no valor do empenho voluntário em favor dos pobres. Contudo, sem deixar de estimular e fazer pressão para que as instituições públicas cumpram, do melhor modo possível, o seu dever. E os que vivem em condição de pobreza sejam também envolvidos num processo de integração social!
Quanto trabalho temos ainda pela frente para tornar realidade estas palavras, através de políticas públicas favoráveis às pessoas fragilizadas de nossas comunidades!
É fácil cair na retórica quando se fala dos pobres. Os pobres são seres humanos, têm rosto, uma história, coração e alma. O Livro de Tobias ensina-nos a sermos concretos no nosso agir junto dos pobres. Portanto, interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza.
Assim, “não afastar o olhar do pobre” leva a obter os benefícios da misericórdia, da caridade que dá sentido e valor à vida cristã. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a sermos seus amigos, a acolhê-los como Jesus o fez: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40).
Nesta casa que é o mundo, todos têm direito de ser iluminados pela caridade! Neste Dia Mundial dos Pobres, possa o coração amoroso de Santa Teresinha ajudar-nos a “nunca afastar de algum pobre o nosso olhar” e a mantê-lo sempre fixo no rosto humano e divino de Jesus!
Fonte: Carta do Papa Francisco para o Dia Mundial do Pobre 2023
IRMÃ CARMELA PANINI
Articuladora Diocesana das Pastorais Sociais/Cáritas